sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Natal...

Tirando a agitação do dia a dia, agravada nos tempos de presentes e chester e amigos-secretos, dezembro é tempo da esperança e fé se renovarem. E não por causa do décimo terceiro salário, nem das férias, nem porque eu mereço ou fui bonzinho, mas porque é Natal, o grande presente de Deus para mim, para ti!

Já pensou um dezembro sem Natal? E o Natal sem o verdadeiro motivo da comemoração? Jesus é o motivo do Natal, sem Ele a festa e o presente têm fim em si mesmo, às vezes se tornam pesados, a alegria é vã e dura até a ressaca de outro dia.

Eu digo que em dezembro os homens são salvos de si, porque se chega estafado, como que no limite, e tu ganhas esta grande oportunidade de interromper os dias, olhar para dentro e renovar o espírito. E depois se brinca, brinda e deseja-se votos de felicidade, e já não é mais uma alegria vazia.

Desejo sinceramente que neste natal a verdadeira alegria preencha teu coração e permaneça no ano novo, especialmente naqueles momentos de solidão, mas que tu não estás sozinho porque leva Deus no coração e na tua vida!

Um feliz e santo Natal!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Por estes dias

Terminei de ler "Cristianismo Puro e Simples" de C. S. Lewis há alguns bons dias (o livro estava na minha lista branca, mas a indicação da Norma favoreceu a antecipação da leitura), gostei muitíssimo, fala principalmente dos valores e da moral Cristã numa linguagem bem tranqüila quase didática, e me esclareceu muitas coisas e fez relembrar outras tantas... Mas apesar da facilidade da leitura, não é como ler, por exemplo hummm... (melhor não citar o que pensei, ou a comparação seria prejudicial para Lewis) qualquer leitura fácil para distração, pois os assuntos abortados mexem e não te fazem parar por aí (a não ser que a pessoa se contente), eu diria que é um bom aperitivo para maiores aprofundamentos.

Há sim o desdém de quem olha o título e logo fala (se não fala, pensa) "ah cristianismo, só deve falar de religião" e faz uma cara de quem já avaliou e decidiu no mesmo momento em que mal viu o título. Ok, entendo, acontece a mesmíssima coisa comigo quando vejo um livro de Paulo Coelho, por exemplo, pelo fato de só ler apenas o nome do escritor. Não, mas é um pouco diferente: tentei sinceramente por três vezes ler Paulo Coelho, a primeira vez na adolescência foi quando quase todas minhas amigas o liam enquanto eu lia Machado de Assis e Érico Veríssimo. Isso, logicamente não me faz uma pessoa superior e coisa e tal, nem por não ter lido Paulo Coelho nem por ler C.S. Lewis ... mas também não precisa fazer aquela cara entojada "ah Cristianismo...", porque não te é pedido uma avaliação... enfim, o livro fala da religião Cristã sim, óbvio, mas tem muita coisa que é comum, de valores universais, que é o que trata até uma parte do livro antes de chegar ao cristianismo propriamente dito.

* * *

Meu movimento queremista, porque todo mundo quer ter um, de Vargas a Lula...

Eu quero, entre tantas outras coisas, o CD da trilha sonora do filme "Cuba - A Cidade Perdida".

Na verdade o queremismo de Lula se referia (ou ainda se refere) a outro querer, agora desconfio que ele queira é que haja mesmo muito petróleo na reserva de Tupi. Querer até a gente quer, o problema é que ele quer hoje, usando a novidade incerta de ontem e a baita propaganda de amanhã.

* * *

Na casa da Vó, sem nada para fazer, assistindo Jimmy Neutron, o Menino Gênio
Em época de crise os primeiros que fogem são os intelectuais. (Jimmy)

PS: a frase pode não ser bem essa, não me recordo exatamente.

* * *

¿Por que no te callas?

Elegantíssimo esse Rei.

Há quem acha que foi "Piti" (a Folha, que novidade), já este Senhor (aliás, notícias?) acha que é coisa do império e da oligarquia! ha-ha.

E os que reclamam de Olavo dizer muito palavrão, poderiam sugerir que ele substituísse o famoso VTNC pelo Por que no te callas? .

Eis o piti, ops, o hit para celular.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Notas da rotina

Sempre dou uma parada no vidro de anúncios da portaria para ver se há alguma novidade. Não que eu esteja procurando alguma coisa específica, talvez seja dessas pequenas ações autônomas da rotina. Que seja. Ocorre que sempre há alguém vendendo alguma coisa em meio a anúncios de serviços. É um apartamento, é um carro, é uma cama por R$ 40,00... opa, uma cama? Chamou-me atenção aquilo, mas por que vender uma cama?! Outro dia tiravam os toldos do estacionamento, e claro, estavam vendendo os toldos, a maioria velhos e enferrujados... Tenho a impressão de que não se dá mais nada, só se vende!
* * *
E bate na porta (quase nunca alguém bate na minha porta) uma criatura “doce ou travessuras?” Como? “doce ou travessuras?” Ah... doce... Pausa (estava esperando ganhar um doce!). Depois que percebo que é “dia das bruxas”. E o que tenho que te dar? “doces!” Ah, puxa não tenho doces...Lá saio eu catando algum doce, achei umas bolachas de chocolate que não atraem crianças, ofereci. “Ah... não” e sai o guri. Que mal educado! Insisto: de chocolate! “Ah tá” pega e sai. E batem mais algumas crianças. Não tinha nenhum doce que criança goste, para uma ofereci um pudim de caixinha, virei as costas e a bruxinha “pudim de caixinha?!” Dei uma maria mole (de caixinha) e ainda disse que era melhor que a banana que ela havia ganhado. Ok, não aprecio esta data, mas vá lá, crianças... Bate a última criança, na falta de doces pedi travessura... ele de roupa de batman olha com aquela carinha meiga pintada “como assim”? Ganhou um pedaço de bolo de chocolate com côco.
* * *
Lembrando: noto que não, o problema não é a venda de objetos, o que é algo bem normal - o comércio - e faz bem. Mas é que há coisas invendíveis, para mim uma cama normal é invendível oras! Dê para alguém que precise de uma! Conheço gente que ganha equipamentos, coisas, e depois as vende! Está faltando generosidade nas pessoas. Generosidade e observação: a generosidade é despertada (bem, quando existe “dentro” do indivíduo, imagino) quando ele observa o outro, a necessidade do outro. Claro que nem tudo é dável, por exemplo, se fosse uma cama quebrada, não se dá só porque está quebrada e não presta nem para ser vendida. Entendo que não há generosidade neste gesto, mas entendo que a generosidade está em dar (e mesmo retribuir) da melhor forma possível, porque queremos o bem do outro com o bem que damos, e fazemos.

domingo, 28 de outubro de 2007

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.


Cecília Meireles

Domgingo. Quero deixar para lá muita coisa, não porque mereça, talvez mereça, talvez não... quero passar bons momentos, celebrar a vida, porque eu acredito que apesar de tudo, apesar de todas agruras, é possível e importante celebrar a vida. É o que nos salva da selva. No fundo quem sabe eu sou uma otimista e aquela psicóloga estava errada (curso, não terapia que ainda não tenho coragem). Por falar em coragem, preciso criar coragem de mostrar o que eu mesma escrevo, meus simples poemas, por enquanto fico com Cecilia, nome da minha futura filha (se Deus quiser! não, não estou...), de qualquer forma tenho que aumentar meu repertório.
Vou terminar a capirinha e passar o domingo ao lado dos meus amores.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Das conversas à toa...

Esses dias, numa conversa à toa, surgiu-me uma idéia. Parêntese: essas conversas à toa, aparentemente fúteis e desinteressadas, é que às vezes nos salvam da rotina de pedra, da rotina de dias retos. É como se fosse um livro, mas ao invés de se abrirem folhas, abre-se o ser, não técnico e materialista, mas o ser verdadeiro que a gente abre quando se está em casa de chinelos, ou descalço mesmo (ai ai, isto é uma referência, ou influência, de "Três Alqueires e Uma Vaca", Gustavo Corção,que li este ano e não me esqueci, não é possível esquecer). Claro, não é sempre assim, digo das conversas-à-toa não forçadas, se bem que às vezes uma conversa meio forçada pode resultar numa boa conversa, quando o ser verdadeiro resolve dar as caras. Parêntese do parêntese: falar em ser verdadeiro, dá impressão (e foi de propósito) que existem dois seres num só, ou três, um verdadeiro, um mais ou menos e um falso. Sei lá. Mas que a gente fica mais reticente quando sai de casa, fica. Fim dos parênteses. Então, voltando à conversa à toa. Não foi por acaso que estava justamente em casa, em volta de uma mesa. As boas conversas geralmente se dão em volta da mesa, pode perceber, quando se tem comida e come-se sem pressa, então, são os melhores papos. Lá na mesa da casa da minha mãe, por exemplo, qualquer assunto com a grande família mezzo italiana reunida vira um grande debate (bem observou um amigo!). Mas na conversa à toa aquele dia na minha casa, estávamos conversando não sei o que. Ah lembrei, era sobre o sogro que invariavelmente acaba sendo o assunto quando nora e sogra sentam na mesa para tomar café. O sogro, segundo o diagnóstico da sogra, é meio hiperativo ou hiperativo e meio, não entendo do problema, mas a gente tende a pensar que esta coisa dá em criança... E eu pensei, de repente, que o purgatório deve ser aquele lugar onde a gente terá que controlar e curar-se das próprias ânsias, aquelas não equilibradas em vida: numa fórmula diretamente proporcional (como se as ânsias pudessem ser colocadas numa fórmula matemática), quanto maior o saldo houver (ai essa mania de contadora...), maior o tempo no purgatório até não haver o controle total das angústias, a perfeição. Também a fórmula não deve ser tão simples assim, creio eu.
Imagino que isso possa render boas, divertidas e assustadoras estórias. Ao menos rimos muito imaginando o sogro com as mãos e pés amarrados, como um parar obrigatório, para controlar a ansiedade de todo tempo estar em movimento, se não em movimento, de estar mexendo sempre com alguma coisa, um objeto, mesmo quando seria um momento de relaxar, o objeto é o controle remoto. E eu? Eu acho que ficaria, ou ficarei de repente, de jejum, para dizer o mínimo!
Assim, alguns podem pensar que o purgatório seria o próprio inferno. Não! O inferno não tem retorno, o purgatório é a segunda chance para a vida eterna. E antes mesmo de ficar nestas digressões é preciso acreditar na vida eterna, ao que outros acharão uma bobagem tremenda, alguns podem dizer que é fácil deixar para um possível depois, etc, etc, claro que o porvir da eternidade não é o lugar onde se deposita coisas da vida, para “depois eu vejo o que faço”, não, não, a própria idéia da eternidade é que assusta e é por isso mesmo que não é nada fácil e se é uma espécie de “depósito”, o estoque não poderá ser ruim, ou de todo ruim ao menos. Mas que horror pior, creio eu, é viver sem ao menos a chance da eternidade, a vida passaria a ser puramente material e temporal, purgatório e inferno seriam neste plano, sem chances do paraíso, porque o paraíso não é aqui (a própria noção de paraíso não seria lógico num mundo desses). Seria a desesperança total. Enfim já mudei de rumo... cada um com suas ânsias, purgatórios e infernos.
Voltando. É por essas e outras que em casa, de chinelos ou descalço, em volta da mesa ou não, a gente se despe das vergonhas de pensar e dizer (elas ficam na soleira da porta para quando sairmos novamente) para ser o que é. E quando até em casa há essa boba vergonha de se exprimir a alma, num sentido de se reprimir (porque um pouco pudor sempre faz bem), ai ai ai, as saudáveis conversas à toa não serão possíveis, espontâneas e tão fáceis, será preciso (suponho, não tenho fórmulas como as vendidas em pílulas de auto-ajuda) despir-se das máscaras ou corre-se o risco de viver a antecipação, não do purgatório, mas do inferno numa simples rodada de café.
O inferno é a repressão da alma e não ter liberdade de ter dessas conversas à toa, seja lá onde for.

* * *

O CERCO

Estamos todos cercados;
e o silêncio do sonho
é nossa arma sagrada:
as pistolas e as línguas de aço
dos inimigos brilham ao sol,
e eles gritam tanto
sobre as velhas colinas,
atrás das cegas estantes,
que sabemos de tudo;
e colados ficamos,
amamos e permanecemos.

Alberto da Cunha Melo (falecido em 13/10/07)

Poemas do livro O Cão de Olhos Amarelos & outros poemas inéditos
A Girafa Editora, 2006

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Meme...

Peguei aleatoriamente na estante o "A Rebelião das Massas", Ortega Y Gasset e...

A vida humana surgiu e progrediu só quando os meios com que contava estavam equilibrados pelos problemas que sentia.

Uma eternidade depois, mas eu respondi Sr. Jorge Nobre! (e não, não pretendo abandonar este espaço, apenas estou meio distante...)

Então são estas as regras:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

Tô pensando pra quem vou passar... por enquanto vai para o Cláudio, o outro Cláudio, o Aluízio.

sábado, 1 de setembro de 2007

Anseios

Não me anseia
Viver rodeada
Pelo concreto que me acoberta
Onde vejo minha sombra
Sob a luz que me disseca
Essas paredes
Protegem e prendem
Enquanto podem
Mas parede alguma
Pode prender a alma
Que vaga liberta
Sem paredes e sem sombras.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Tu Tens um Medo

Meio off, sem coragem de deletar este blog, então estou por aí.

*

Tu Tens um Medo

Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.

Cecília Meireles

terça-feira, 17 de julho de 2007

Ainda, pergunto-me: há clima para PAN? Eu fiquei me policiando para não ser muito crítica, porque não sou tão entusiasta com esportes, não que seja contra, mas não acredito na idéia que o esporte salva (pode até salvar um e outro, mas não acredito que possa ser usado como pedagogia geral). Enfim , o assunto não é esse agora. Então, há clima para o PAN e para qualquer comemoração? Não! É como se estivéssemos dançando de luto.
Pelo amor de Deus! Quantas pessoas ainda precisarão morrer? É o segundo, segundo acidente grave com avião por causa da infra-estrutura nestepaiz!
Jesus Cristo acolha essas almas, acalenta os familiares e tende piedade de nós!

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Thank´s Al Gore, compartilhamento, cachorro e respeito, etc

Copiando Madonna: Obrigada Al Gore!
Graças a Al Gore ficamos sabendo essa verdade tão inconveniente. Na verdade a gente já sabia, ainda mais tendo Xuxa como representante algoreana no Brasil (isso que é renascer das cinzas), mas só o filme não bastou. Então, o Pop reunido [jamais será vencido!] na megaliga Live Earth, reunido por Al Gore é bom lembrar, anunciou, em meio à muita música (um recurso altamente eficiente, vide a performance de Madonna e a voz de Joss Stone), anunciaram a guerra do mundo contra o aquecimento global, e colocaram às massas no front, claro. Os que podem, vão comprar suas cotas de carbono (?), como o Red Hot, “que já se preocupa com as próprias emissões há anos”. Não consta na notícia quais emissões. Ah, Black Eyed Peas (o vocalista entrou com a bandeira do Brasil) lembrou que o Brasil produz a maior parte do oxigênio mundial com a Amazônia, etc etc.
Você já faz parte da campanha para "curar o planeta", sim curar!, afinal você é um super homem! Você está pronto para entrar para a história?
Depois de ver o compacto do show, o agradecimento de Madonna, tantos pops engajados, é bom dar uma volta para curar o cérebro de uma possível neurose coletiva.

--

Pô, até o Metallica?

--

Em um dos shows, não me recordo se foi o The Police, tocaram Another Brick In The Wall.... não combinava com aquela massa...

--

Então, que dólar que nada, a nova moeda será cotas de carbono. E haverá bolsa para negociação das cotas. Os reles mortais que continuem separando lixo.

--

Por falar em neurose coletiva, no programa global Fantástico, às vezes escuto, de ontem parei para ver aquela reportagem do mundo de Valentina (que ainda está no ventre) terá ao nascer e no futuro, etc etc. Não assisti ao episódios anteriores, mas ontem o que me chamou atenção foi a idéia apresentada do uso dos carros: o compartilhamento. O compartilhamento significa que o carro, um bem altamente poluidor e a causa dos congestionamentos, não será mais propriedade privada e condição de status, de vaidade, de individualismo. mas será um bem da coletividade, portanto, compartilhados com as demais pessoas que precisam: onde caberia um, cabe cinco, o problema do trânsito estaria resolvido, do altruísmo também. Uma idéia aparentemente do bem, mas que tem na verdade outro nome e uma filosofia bem mais complexa.

--

Eu já escolhi, quero compartilhar o carro da Glória Maria. Os sapatos e as bolsas dela também.

--

Por que uma pessoa que tem ou comunga de uma idéia dessas – do “compartilhamento” (obrigatório) – precisa esperar que o carro deixe de ser um bem privado e passe a ser público para dar carona ao, sei lá, vizinho? Por que as pessoas se preocupam tanto em separar o lixo reciclável (não estou dizendo que isso não é bom, eu separo lá em casa), e mal cumprimentam seu vizinho? É o que acontece no meu condomínio. Chego no ponto de ônibus e dou um bom dia, às vezes obtenho respostas audíveis. Às vezes tenho vontade de gritar: puta merda, custa alguém me responder por educação?

--

Eu começo a entender na prática a idéia de se fazer escolhas cujo principal critério é o do gosto ou não gosto tão somente. Mataram por envenenamento o cachorro da família - o Simba, que era mais da minha mãe. Um guaipeca muito querido, grande, bobo e desengonçado, bebê ainda, não era “de madame”. Alguém não gostava dele, não importa se a gente gostava, não importa a minha mãe ter ficado mal até o outro dia. Não importa o dever do respeito. Podem pensar que foi a morte de um cachorro apenas. Não, porque não era só um cachorro, foi a falta de respeito, de consideração com o outro e sua coisa. Ao menos lá alguns vizinhos foram levar solidariedade e lamentar o ocorrido.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Quase-doida

Um dia e meio, um dia e meio para fechar o balanço e o financeiro nem fechou os lançamentos ainda! É a minha amiga que reclama, todo mês ela reclama. Ela tema fama de reclamona porque não fica indiferente ao que não é indiferente. É do tipo, reclama mas faz. A diferença é que agora tem carrega um serzinho, que já é meu afilhado. Serzinho não, já está um serzão.

E ficam as duas numa espécie de terapia em grupo de dois, de duas: amiga essa vida de contadora não é fácil, não é a toa que já ouvi por aí que contadores sofrem do coração. Aparentemente não há muita lógica contador morrer do coração, porque contador aparenta não ter muito coração, mas tem! E morre por causa disso!

E eu contei pra ela que no livro que estou lendo - Três Alqueires e Uma Vaca, de Gustavo Corção, cita Chesterton (Orthodoxy): "Os matemáticos e os contadores muitas vezes ficam doidos." E não é para ficar? Segundo Corção, Chesterton lembrava Nietzsche, e eu lembrei disso porque não desejo ficar doida.

O bebê da minha amiga a salva dessa vida a cada chute, e por isso ele chuta tanto! Terei que providenciar um filho logo, para ele me chutar me lembrando de não ficar doida! Ai, ai, esse meu senso prático... Aí, no planejamento, percebi que não poderia parir entre janeiro e maio. Parei: então a mulher contemporânea tem q programar filho conforme a agenda de trabalho!?!? Isso não é um ABSURDO?!? É um absurdo sem tamanho! E eu quero ganhar em fevereiro ou março e não quero nem saber, só não sei exatamente em que ano. Aliás, imagino (porque saber mesmo, só Deus sabe), mas não quero contar.

E não pensem que estou revoltada, nananinanão. Eu não sou revoltada. Hoje estou com pés fincados no chão (vai ver é isso, pés demais no chão) e a cabeça batendo no céu, e eu desejo a saúde de espírito, já que deixar de ser contadora não será a solução.


*


E sobre a parte do Corção citando Chesterton está aqui:
Para não ser doido.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Debatentes, combatentes...

Primeiro o Ministro Temporão, com todo seu charme, anunciava no programa Roda Viva, que queria promover um amplo debate sobre o aborto. Rapidinho da proposta de debate o Ministro afirmava necessária a prática do aborto como saúde pública. De algo a se discutir ainda – o aborto - já se passa a discutir, debater pois, sob o aspecto da saúde pública (não vale discutir sob outros pontos que não interessem à causa!). Bem, depois o Ministro foi se revelando.

Mas eu falei da discussão sobre aborto, assunto que me interessa bastante, para falar na verdade do projeto de censura prévia que eufemisticamente é chamado de classificação indicativa. O debate foi no Roda Viva, de novo. De novo, pretendem com classificação indicativa uma política pública (Reinaldo Azevedo falou bastante do assunto, vejam lá).

O que me chamou atenção, nos dois casos, é que se discutem coisas indiscutíveis sob os pontos de vista reduzidos que se pretende discutir. Explico-me: se se aceita discutir o aborto ou a classificação indicativa em torno do quesito política pública tão somente, então é porque não há mais dúvidas sobre tudo o que vem antes desta conclusão, toda a sustentação já está aceita a priori, faltando alguns pormenores para se colocar em prática. Isso sem falar nas pegadinhas sentimentalistas de que “é para proteger a mulher” ou “proteger as criancinhas”. Entrar nesse tipo de discussão desonesta é fazer o jogo sujo do adversário.

No Roda Viva de segunda passada, Demétrio Magnoli tentou dizer que não discutiria a classificação indicativa naqueles termos [não foi bem assim que ele disse, não me recordo] e o comportamento foi taxado de antidemocrático, afinal aquilo ali era um debate democrático e tal, a discussão pegou fogo (ah, não vale falar exaltado, tem que falar mansinho, miudinho) e Paulo Markun aplacou os ânimos e passou um pito.

Por esse entendimento de debate democrático, Deus teria que discutir com satã. Discutir não, debater de igual para igual. Basta que os dois lados estejam representados em mesmo número de debatentes (um neologismo, não sei se já existe) e as regras sejam iguais para os lados. Pronto. Em muitos casos, como do aborto e da censura, isso é mais uma discussão desonesta que qualquer outra coisa. Recuse-se a discutir, pronto, gritaria geral e dedos apontados para tua cara “antidemocrático, antidemocrático”, ou em outros casos “carola, fundamentalista” e coisa pior (pior mesmo? Ser carola é pior que ser abortista?). Daí a tentar se explicar que não se é carola (ou discutir o que se entende por), que não se é fundamentalista, a discussão foi por água abaixo.

Então, com isso eu não disse necessariamente que é para fugir da discussão, mas não fazer o joguinho sujo do outro com quem se discute. Se é para entrar no debate, então que se discuta, que se combata o bom combate. Até rimou.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

No caminho da roça

Esses dias, fazendo o caminho da roça, indo pegar o ônibus para casa, eu ia pensando, cada passo um pensamento, e como eu penso, meu Deus como eu penso! Não duvido que faço caras e bocas sem querer, porque às vezes pego alguém me olhando de soslaio. Aquele dia fazia o inverno típico curitibano, que eu adoro, de um vento cortante. Não sei explicar, mas acho que esses dias são propícios para se pensar andando sozinho na rua.
Pois bem, antes que eu me esqueça do que pensava. Na verdade me perguntava por que eu me interesso e me empenho em certos assuntos e entro em discussões. Por que simplesmente não trabalho, compro, trabalho, faço filho, trabalho, depois viajo, trabalho e mais tarde aposento. Por que fico pensando em coisas tão subjetivas e complicadas, por vezes comprando briga? Por que simplesmente não penso naquela bota?
Ah mas eu pensei na bota, o que já é uma evolução, em outros tempos nem pensava para comprar, hoje olho, vou para casa esperar a compulsão passar, penso e aviso ao marido: vou comprar uma bota, eu preciso. Homens geralmente não conseguem entender o fato da mulher sempre precisar de um sapato novo, não que ela sempre compre, mas ela sempre precisa. Aí demonstrei que precisava e ele não discordou. Outros tempos ele só falava: compra o dinheiro é teu. Eu ficava meio assim assim... a mulher em certas coisas tem necessidade de aprovação, alguns acham isso machista demais, não sei, o caso é que se os dois têm planos, prioridades, em comum a mulher não vai sair comprando sapatos à toa (ok às vezes vai), por mais que o dinheiro seja próprio, se o cara não se importar que ela esteja comprando sapatos à toa, prestatenção, talvez ele não se importe com o que ela faça com os dinheiro ou as prioridades, desde que fique satisfeita e não encha a paciência dele, ou ele também não está tão preocupado com as prioridades dos dois não. E a mulher também faz essas perguntinhas para testar o relacionamento, ah sim, somos bem sacanas às vezes. Se ela tiver de TPM e for meio neurótica, já viu... ai ai ai até onde foi minha digressão...
Então, estava eu, minhas botas novas e pensamentos velhos fazendo o caminho de volta da roça, uma caipira cosmopolita. Por que me envolvo que assuntos que, a priori, não fariam melhor ou pior a minha vida, nem a vida de outros...? porque não quero ser mais um na boiada, não me contento em me apegar somente a trivialidades da rotina, que vá lá, não descuido também. Mas o que importa, o que importa realmente se as batatas têm que ser cozidas inteiras logo cedo no domingo, esperar elas esfriarem bem para picá-las em quadradinho, e só depois, veja bem, só depois de tudo isso colocar o molho da maionese? Não pode cozinhar já picada, deixar esfriar no freezer e colocar o molho quando ainda estiverem mornas dez minutos antes do almoço! Olha se outras pessoas se levam a sério essa sistematização trivial ... (dando de ombros), eu que não vou perder uma Missa no domingo de manhã para cumprir todo ritual maionesístico. Não estou querendo dizer com isso que sou melhor que a fulana que prefere esperar as batatas esfriarem, etc e tal.
Pessoalmente tenho necessariamente ver sentido nas coisas, é meio obsessivo e automático e eu gosto de saber o porquê das coisas, ter (ou buscar ter) ciência e consciência, porque antes de ir para o cabresto, antes de aceitar o que é imposto por homens, diga-se alguns homens para o resto da coletividade, quero poder me informar e falar, quero saber porque tal coisa tem que ser desse jeito e não de outro. E quero ter a liberdade de dizer. Então, se um dia o ritual maionesístico deixar o ambiente individual de alguém e for dissipado culturalmente como a forma correta de fazer maionese, o que é obviamente uma metáfora, vou me importar. O que não quero é simplesmente mudar por mudar, nesse sentido não quero fazer parte do gado que anda parcimoniosamente para o matadouro, ou sendo menos trágica, seguir o caminho pré-definido por um alguém ou coisa obscura que não declara as intenções.
Ou você se importa com as coisas e decisões que terão influência na sua vida, mesmo que você seja ou se ache um reles mortal, ou outros tomarão decisões por você. É por isso que me importo e também porque quero ter filhos – não já já, não quero só deixar um mundo mais bonito para eles, sei lá, separando o lixo que não é lixo da cidade grande.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Passando rapidinho

Andei pensando nesses últimos dias que nem só de lógica se sustentam os argumentos, as idéias, ações, etc, etc.
Quando li por aí a idéia do controle da natalidade como forma de amenizar o aquecimento global, uma luz amarela se acendeu nos meus pensamentos... Há lógica, não há nexo. Imagine qual entidade global que faria esse controle hein? E quem se submeterá - de livre e espontânea vontade e em plena razão - a esse controle? Eu que não.
*
Vou para Aparecida domingo! :D
*
Grêmio 2 X 0 SP e na semifinal da Libertadores!
*
E eu quero mais é que haja debate sobre o aborto mesmo, já para o ringue como foi no desarmamento. Eu gosto de ver o circo pegar fogo!

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Primeiro de maio, primeiro de maio!

- Ligaram de uma agência de empregos pra ti, estão te chamando pra uma vaga!
- Sério! E quando começo?
- Brincadeirinha, primeiro de maio!
(essa é de chorar)

*

Fico pensando se o primeiro-de-maio ainda tem alguma significância para o trabalhador. Ainda mais quando se vê ordas lideradas por sindicalistas-altruístas distribuindo prêmios. Aqui em Curitiba esteve a Força Sindical, sortearam até casas. Até aí, vá lá. O chato é sempre o mesmo papinho dos direitos trabalhistas, que a malvada emenda três vai acabar(!). Criação de mais empregos, inserção dos informais no mercado formal, não escutei na pauta. Bem, também mal parei para escutar os discursos, eu não tenho mais saco para tanto. E não adianta vir com o papinho de que os direitos trabalhistas foram conquistados antigamente e são mantidos por causa dos sindicatos, esse argumento não conquista a minha simpatia por sindicatos do jeito que as coisas estão colocadas, por mais importantes que já tenham sido, por mais que se salve um ou outro. E eu gostaria muito de saber o que os trabalhadores pensam realmente dos sindicatos. E os desempegados o que acham? E os informais? Pessoalmente acho que já deixei a minha impressão de antipatia por tais entidades, eu não me sentia representada, nem queria e nem quero ou preciso de um, apesar de que há um sim que diz que me representa, manda boletos de cobrança, a foto da sede campestre [associado tem vantagens!] e clippings onde uma notícia me chamou atenção: são favoráveis [e militantes] ao veto do Presidente à Emenda 3. Já o Conselho da Classe [ao qual pertenço] é contra, vai endender. Ah mas eu já cometia injustiça: o sindicato atual está repaginado, além dos direitos trabalhistas, vai lutar pelas causas ambientais, começando humildemente pelo aquecimento global. Mas a cena mais estapafúrdia foi a do MST(!) protestanto e invadindo um supermercado [não sei onde, não vi toda a reportagem] porque estava aberto, atendendo, obrigando os trabalhadores a trabalharem no dia do trabalho! MST também está repaginado! Esse primeiro de maio hein, o nome deveria ser dia do não-trabalho.
E agora eu vou dormir que já é dia dois e logo devo trabalhar.

domingo, 29 de abril de 2007

“A cidade perdida”

Um filme que passou e passa despercebido no Brasil. Na locadora estava classificado como um filme de “aventura”. Bem, não deixa de ser também. História, desde Batista até pós revolução, Andy Garcia charmoso-meio-estrábico, misturado com rcomance. No final a mocinha... bem, vejam o filme para ver com quem fica a mocinha, se com Fidel ou com seu amor. O final de Fidel não tem novidade nenhuma, no filme e até o momento.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Descobrindo a América

De uns tempos para cá venho cada vez mais descobrindo [pode não ser uma grande descoberta universal, aliás não é, mas é pessoal] que um grande dilema humano [digamos assim] não é ser de direita ou de esquerda. Isso é uma característica política, que não raramente sobressai a qualquer outra, como uma divisão radical e definitiva, o que eu acho ruim. Ruim porque, mesmo o fator política sendo importante, não creio que seja a principal ou a única, mas que deriva de um estado de princípios e valores. Ou, resumindo, a política não está acima de tudo. Ou a carroça não pode estar à frente dos bois. Eis a descoberta pessoal! É de uma obviedade ululante [Nelson Rodrigues]. É até risível. Mas se a política não a mais importante, então o que é? Não sei. Eu só sei o que é mais importante para mim, minha família e olha lá. Esclarecendo que isso não é o mesmo que viver alienado de uma tal sociedade, muito pelo contrário, é preciso vigiar.
Então. Depois que eu “descobri a América”, percebi que um grande dilema humano, no meio de tantos, é o conflito entre o individual e o coletivo. Talvez não seja primeiramente e necessariamente um conflito, ou passa a ser um conflito quando estimulado... E não num sentido de propriedade, de bens, mas em todos os sentidos, especialmente os de consciência e pensamento, que acredito preceda os demais. Percebo que há pressão da coletividade sobre o indivíduo. Não que um indivíduo não possa pensar na coletividade, mas isso é diferente de pensar com a coletividade ou pensar em coletivo. Quando se é primeiramente indivíduo é possível chegar à coletividade, por exercício das virtudes, dos princípios e valores morais, mesmo quando o individuo precisa se negar em favor do outro. E é preciso um ambiente de liberdade para isso. O contrário é a supressão do indivíduo, de sua liberdade e a sua morte gradual [morte não necessariamente física, mas mental]. Uma vida de gado, vazia, mas preenchida pelas benesses do dinheiro.
Não se trata de colocar o individual x coletivo. Quando o individual é assegurado, a coletividade não perde. É o óbvio difícil de ver, entender e explicar. É o que penso como indivíduo. Como indivíduo vou “descobrindo Américas”.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Toda manhã na sociedade civil desorganizada

Toda manhã eu pego o ônibus para trabalhar, exceto sábados, domingos e feriados, e, exceção à exceção é quando tem bastante trabalho elevado ao cubo, normalmente naquela época em que muitos brasileiros acreditam que o Brasil não trabalha, enquanto a maioria dos brasileiros não param e acreditam que deveriam parar, essa época que termina na outra segunda-feira depois da quarta-feira de cinzas mais um mês. Ufa! A razoável normalidade volta, ora ora que ironia, em primeiro de abril.
Toda manhã eu pego o ônibus... “Todo dia ela faz tudo sempre igual..” lembrei daquela música bacana do Chico Buarque (é dele? não sou fã nem bem informada hehe), que esteve aqui fazendo show por esses dias. Olha, podem me chamar de ignorante, mas eu nunca fui muito assim-assim com o Chico Buarque. Gosto das músicas, mas simplesmente não consigo achar tudo isso (tudo isso que as mulheres, e homens também, suspiram) dele para pagar uma bagatela de até R$ 280,00 por um ingressinho no Teatro Guaíra. No meio do show poderia me lembrar que o patrocínio, pela TIM se diga de passagem, pode ser uma isenção de tributo, e o Teatro é do Governo do Estado do Paraná, e mesmo assim o preço é este. Aí eu estragaria meu show por ser acometida de uma espécie de ressentimento dos sem-chico-buarque ou então por politizar o que nem precisa ser politizado, afinal, qual o problema dos Patrocínios? Nenhum, quase, quase. É que também não consigo esquecer que o charmoso Chico desdenha o capitalismo que o patrocina e que baba no seu show. E não baba? Até eu babaria. E eu li num artigo que ele “impávido e elegante” “mal conversa com a platéia” “O próprio clima do espetáculo recolocava os hormônios em paz sem que o artista precisasse gritar de volta: “feche as pernas e preste atenção, vagabunda!”.” Tem gente que vê nisso elegância. Ou exultação à obra e menos à pessoa. Pode ser. Pode ser desdém mesmo, o preço do ingresso também pode ser uma forma de tributar mais um pouco os capitalistas baba-ovos.
(Ressalva: Não, não disse que Chico Buarque não deva ser Patrocinado, nem nada. Na pior das comparações, melhor patrocinar a ele que, sei lá, Tati Quebra-Barraco em turnê pela Europa. Também nem todos da platéia são capitalista baba-ovos, alguns são só baba-ovos hehe não falei de forma enfática, mas geral. Outros são estudantes baba-ovos beneficiados pela meia entrada. Sabe, no rol das coisas que não gosto, está aí mais um item: a meia entrada para estudantes. Um dia quem sabe explique, agora não dá o post está ficando enorme.).
Então, toda manhã de segunda à sexta-feira eu pego ônibus para trabalhar. E no caminho tinha uma pedreira (ai que trocadilho tosco), e o itinerário se alongou dez minutos. Dez! Os atrasados devem me entender! Depois fiquei sabendo que era alguma manifestação da Emenda 3 que prejudicou o trânsito. Se fosse a “sociedade civil desorganizada” na defesa da emenda não me importaria, meu atraso seria uma colaboração: Desculpe meu atraso, participava indiretamente de manifestação pela Emenda 3!
O protesto era a contra à emenda. Certo, todo mundo pode protestar e defender idéias, faz parte do jogo democrático, etc e tal. A sociedade civil desorganizada decerto nem sabe direito da tal emenda, tem mais que sair, pegar ônibus e trânsito e trabalhar, quem poderia ser organizado com esses obstáculos?
Bem, o protesto é uma campanha liderada pela CUT, que teve apoio de sindicatos à professores e ampla divulgação na rede de tevê Requião, ops, estadual Paraná Educativa. O Governador deu todo apoio ao veto (e assim foi criado o “Comitê de Mobilização com representantes do governo, sindicalistas e representantes dos movimentos sociais”). Na tevê, o espaço aos sindicalistas que entre umas e outras (declarações) saíram como estas "A emenda 3 é o ponta pé inicial para uma reforma trabalhista camuflada que atente exclusivamente os patrões e seus interesses de maior lucratividade", argumenta Marisa Stedile, presidente do sindicato. "Os trabalhadores serão os principais prejudicados, pois correm o risco de perder direitos adquiridos, como licença maternidade, férias, 13º salário ou Fundo de Garantia", completa." As fotos do protesto.
Eu sou mesmo por demais desconfiada, como uma boa capricorniana. Ainda mais com a combinação comitê + mobilização + representantes do governo + sindicalistas + “movimentos sociais”. Quanta organização! Quanto interesse! E quanto sofisma! Eu não pretendo discutir aqui os argumentos no mínimo desonestos, há gente muito mais gabaritada para isso. Só digo que, se é para escolher um lado, eu fico a favor da Emenda. Dos desorganizados. Também porque saí do cabresto, por livre e espontânea vontade, dos “benefícios” trabalhistas que dizem defender, e estou fora do âmbito de sindicados, ó glória! E isso dentro da legalidade. Se por acaso tiver que voltar à condição anterior, paciência, nem assim serei mais simpática aos "camaradas". O que querem os auspiciosos organizados senão meter o cabresto sindicalista nos que ainda têm uma opção liberal e legal (há exceções, claro) para continuarem trabalhando não menos arduamente? Se não for isso de verdade, então o que é?
Não obrigada, eu não quero um sindicato para chamar de meu. Só quero pegar o ônibus toda manhã, exceto sábados, domingos e feriados, e se nada atrapalhar o trânsito, chegar mais ou menos no horário, que não me preocupo mais com cartão ponto, como uma reles civil da sociedade desorganizada, que às vezes baba-ovo por alguma música do Chico Buarque.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Lógica brasileira

“...a vaga da UTI não salva...”
Não estava dando pelota para a tevê, mas me chamou atenção essa frase de um homem dando entrevista sobre a falta de vagas em hospitais, acho que em Cascavel. Faltam vagas? Ah mas a UTI não salva, logo para quê aumento das vagas? E o homem ainda pediu ajuda da população, não disse que tipo de ajuda. Vamos ajudar gente, que mania vocês têm de ficarem doentes ou de se acidentarem hein!

*

Especialistas descobriam que peixe faz muito bem para a saúde.
O brasileiro come pouco peixe.
LOGO o Governo vai criar uma política pública para aumentar o consumo de peixe.
Sem comentários. Só me lembrei daquela piadinha “Deus é amor, o amor é cego, Stevie Wonder...”

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Voltas

Curitiba voltou a ser Curitiba, clima agradável de quase friozinho, graças a Deus, não agüentava mais aquele calorão (sim teve gente que acreditava ser já o efeito do aquecimento global!). Não entrarei em polêmica por hoje, que é tempo Cristão de voltar a si próprio e, especialmente hoje (quinta) a domingo, aos ritos da Igreja. Sim caro Católico, tem que ir os quatro dias na Igreja, não só no domingo ou na sexta! É, tem gente que não se lembra disso...
Há algum tempo decidimos: não viajamos na Páscoa, por ser praticamente impossível (dependendo da viagem) conciliar os ritos e a necessidade de interiorização com a viagem e o tempo em arrumação da parafernália, etc, etc. Esta Páscoa está sendo especial, estamos voltando ao ritmo mais ou menos normal depois de uma longa quaresma que começou bem antes, mas não estávamos só no deserto (a vida não parece um deserto?).
[interrompendo o texto para terminar de limpar a cozinha, tomar banho e sair para a Missa]
Voltei. E não me recordo o que escreveria. Na verdade nem tinha uma previsão para o que viria em seguida, mas já perdi “o fio da meada”, como se diz.
A Missa foi de espiritualidade sublime! Durante a Missa percebi algo diferente, como se fosse perceptível, estivesse no ar. Não é possível explicar e mesmo compreender sem que se tenha vivido a experiência. Depois o pai veio falar “A Missa estava diferente hoje, vocês sentiram?”. O “Católico” que acha este rito muito chato, talvez precise voltar e prestar atenção, meditar os momentos e sentidos do rito (aliás isso vale para toda Missa), onde o momento mais importante é a Comunhão, que lá na Paróquia é dada nas Duas Espécies.
Eu já achei uma chatice, depois voltei para onde nunca havia me afastado de verdade, mas que também não ousava chegar mais próximo. É bom ter para onde voltar, ou parar, no meio do deserto.
Tá, e Curitiba? Buzinas em comemoração a algum jogo no meio dos cânticos. Normal, é da cidade. Ah, noite fria e garoa fina. Uma delícia.
Boa Páscoa!

domingo, 11 de março de 2007

Depois do dia da mulher

No dia internacional da mulher eu escrevi um pseudo-texto, apaguei tudo. Começava lembrando que eu nunca gostei muito desta data politicamente correta. Depois lembrei de um texto do Carpinejar “O que uma mulher quer”, que ele leu no Sempre Um Papo, com aquela ênfase que lhe é própria. Mas o livro está encaixotado com outros há duas, três semanas esperando mudança acontecer. E depois de uma rotina estafante, quente, e de preocupação com o pedreiro que não terminava nunca o serviço, não queria escrever mais nada. Então que, na volta pra casa, meu pai pediu para passar numa floricultura “pra quê?” (eu) “comprar uma flor pra tua mãe!”. E surpreendi-me: estava entupida de homens comprando flores às suas mulheres. O pai mesmo comprou uma linda orquídea branca e um cartão. Meu cunhado no mercado comprou uma flor mais singela, e disse que está progredindo. Alguns podem até dizer que é a apelação da data, etc. Não sei, só sei que é preciso espontaneidade e sinceridade no gesto, e foi o que eu percebi naquele bando de machos escolhendo uma flor. Meu pai olhou pelo menos umas dez, até encontrar a mais bonita. Não, eu não ganhei flores, eu é que dei um simples bombom, pelo carinho e apoio que recebo do meu homem.

*

Ainda

Dia 8, sem sono, fiquei vendo tevê. Observei que no dia internacional da mulher pululam feministas, além das cenas de mulheres que apanham dos maridos ou companheiros. Pouco mostram a mulher comum, que tem a seu lado um homem e se sente completa com ele, o quer a seu lado, e busca nele aquela segurança do macho, nem que seja num simples abraço. Ela sabe que atualmente sozinha ela consegue muitas coisas que anteriormente uma mulher dificilmente conseguiria. Só que ela não quer estar sozinha na conquista. Acredita na união divina do homem e da mulher. Essa mulher não tem ibope. É verdade que eu também pouco vejo tevê. Parei numa entrevista de uma filósofa num canal local. Não recordo nem qual era o canal, nem o nome dela, que já apareceu várias vezes na telinha. Ah lembrei, ela fez ou faz o “Saia Justa” (precisa dizer mais?). Entre outras coisas, ela disse [mais ou menos isso] que a mulher precisa ser vista como pessoa, conseguir as coisas porque é uma pessoa e não porque é mulher. Ou seja, pelo que entendi, antes de tudo a mulher é uma pessoa [o que é óbvio], mas o fato de ser mulher não pode ser um atenuante. Ou estou muito enganada ou essa lógica, válida para equiparação de salários, que foi o exemplo apresentado, mas remete justamente contra a conquista das mulheres até aqui, dos direitos femininos, etc, etc. Seria a anti-mulher. Daí me bateu um sono e eu fui dormir como uma mulher comum.

*

Não custa lembrar
Especialmente aos homens jovens, que a mulher “conseguiu seu espaço na sociedade”, mas a gentileza masculina ou o cavalheirismo não saiu de moda.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Esquisitices

Às vezes gosto de ficar triste de propósito. Não a tristeza dos fatos, nem de depressão, não. Mas uma tristeza de recolhimento, descendo no mais profundo da alma, como se caísse igual ao Gandalf naquela cena do Senhor dos Anéis em que ele cai num precipício lutando com um demônio, e a gente pensa que ele morre.

*

Metaforizando

Quaresma é um tanto isso: cair arranhando as laterais da alma e depois ressurgir para a vida.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Alalaô ô ô ô ô! Esperando o carnaval não chegar!

O que mais gosto em Curitiba é o péssimo carnaval. Um carnaval de cavar depressão em baiano. Não sei se alguém já se esforçou para melhorar a situação. Se fosse eu pioraria e ainda correria o risco de atrair muitos turistas com o slogan: Curitiba, a cidade anti-Carnaval! Uma pessoa de ar cool e sorriso discreto, um céu mezzo cinza atrás. Ah, a cidade maravilhosa é aqui!

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Bonecos de Judas

Ah sim, o caso do menino João. Nem comentei aqui de tanto que falam. Fiquei chocadíssima como todo mundo. Não raro a gente anônima para aí, no choque e perde a reação. Se quiser reagir, protestar não sabe como. Como Católica não dá pra contar nem com a CNBB que veio a público dizer “Não me parece adequado reduzir a maioridade penal, não podemos agir sob efeito do pânico. São situações de barbárie, insensibilidade, que deveriam ser condenadas por todos através da educação preventiva, e não repressiva” dom Odilo Scherer (secretário-geral da CNBB).
Os facínoras que arrastaram o menino precisam ser educados gente! Aplicar a LEI sobre eles significa repressão!!! É óbvio que precisa haver prevenção, educação, mas chega uma hora na vida em que a gente já foi educado no mínimo para não ser selvagem e precisa assumir as responsabilidades dos atos! Aliás, muita gente vai concordar com a CNBB neste ponto balançando a cabeça positivamente e haverá mais gritaria contra os Bispos por outra declaração, mas isso já é outro assunto.
Não raro escuto também que criminosos estão sob efeito de drogas. Não esse, os caras estavam lúcidos. Um deles - Diego Nascimento da Silva, 18 teria dito "É um boneco de Judas” à uma testemunha que perseguiu o carro. Ouvi também gente que fala do ambiente de violência, pobreza que vivem “essas pessoas” (os criminosos). Vão catar coquinho na ladeira! Fosse por isso estaríamos pior do que estamos tamanho o número de pobres.
Depois da fase do choque, surgem as justificativas “sociais” para o crime [como se pudesse haver uma] e mostram o lado humano dos bandidos. O tal Diego adorava crianças, diz a notícia. Já não importa mais, isso não vai [ou não deveria] prevalecer sobre o fato principal e nem livrar das penas da lei. Mas como sabemos, a lei para crimes hediondos foi abrandada nestepaiz, e logo logo ele estará livre leve e solto pelas ruas.
A cada crime hediondo é isso aí: todos ficam chocados e depois esquecidos, até que outro crime aconteça. Os padres de passeata, os juristas, os políticos, que vão pedir calma à família do João, vão! Por mim, só peço calma e racionalidade às hordas selvagens que se precipitam em contrapartida a esses crimes: estão linchando a casa da família dos criminosos, se pudessem fariam com eles o mesmo que fizeram com a criança. Não é assim que deveria funcionar num mundo civilizado (educado) e onde deveria funcionar o Estado de Direito (a tal “repressão”).
Já não somos mais só bobos da corte, somos também bonecos de judas, afinal ao que parece, a culpa é nossa, é sempre da sociedade, do João, e não do criminoso, um “não educado” e “excluído” das políticas públicas para a não violência. Enquanto o óbvio ululante é praticamente ignorado: o perfil de maldade pura e simples.

---

Quero ver se a “discussão” sobre a maioridade penal vai resultar em alguma coisa que não o esquecimento, ou o arquivamento (antes da discussão propriamente dita já há a certeza da não redução). Por ora, César Maia já deu sua contribuição para resolver o problema: cercear a liberdade dos inocentes, um pouco mais do que já é.
É hora de se dar respaldo legal para a retirada de menores da rua, compulsoriamente, quando circulam sem destino. Se a matrícula no ensino fundamental é obrigatória, por que estar na rua fora da escola é um direito?

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Sem título

Às vezes eu penso [nós pensamos] em sair do país, morar em outro lugar, ver e ter outros problemas. Depois a gente faz uma dívida que nos prende aqui. E tem a grande família. E [penso] ir para onde se o mundo parece caminhar para o lugar comum, o igual? Um dia vamos, mas por outros motivos que não sejam os de fuga.
*
“Outrora podia ventilar-se a atmosfera confinada de um país abrindo-se as janelas que dão para outro. Mas agora esse expediente não serve para nada, porque em outro país a atmosfera é tão irrespirável como no próprio. Daí a sensação opressora de asfixia.”“A Rebelião das Massas”, Ortega y Gasset, pág. 22 (comecei ler há pouco).
*
Este livro foi um achado num site de livros.... aliás, o site Estante Virtual também foi um achado. Prevejo que será a minha perdição virtual!
*
Tenho, sempre tive, sérios problemas em colocar títulos. Fiquei uma hora ou mais tentando achar um subtítulo ao blog. Também tenho sérios problemas com subtítulos.
*
Eu amo meu marido porque [entre outras coisas] ele me diz rimas dessas: “Amor do meu coração, por você eu lambo até sabão”.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

A "Agendinha" do Estado x Pais

Parece-me que o governo adora uma cartilha, lembro daquele caso das cartilhas de propaganda do governo em que foram parar no partido petista e que no final das contas não descobriram o paradeiro, exceto claro a conta que foi parar no bolso de alguém.
Ah, mas nada como um cartilha atrás da outra. A cartilha da hora que o governo pretende distribuir nas escolas públicas, é sobre o sexo [acredite, o Estado sabe tudo sobre isso!], espécie de "diário" (com cadeado ou sem?), uma brilhante idéia dos ministérios da saúde e da educação de uma sempre "bem intencionada" "política pública" (e neste guarda-chuva tanta coisa!), destinada a uma faixa bem abrangente de jovens: entre 13 e 19 anos. Sim, treze!
A cartilha, segundo duas notícias da Folha (clique no texto para ver a notícia)
“O governo federal elaborou e vai distribuir para estudantes de escolas públicas de 13 a 19 anos uma "agendinha" com dicas sobre beijo, sedução, masturbação e saúde. Polêmica, a cartilha inclui até uma lista a ser preenchida com as melhores "ficadas" -relacionamentos-relâmpago entre jovens.
Na parte sobre beijos, a cartilha orienta que "beijar muitos desconhecidos numa única noite não é tão bom assim", pelo risco de doenças. Mas compara o beijo ao chocolate, por "aguçar todos os sentidos" e "liberar endorfinas", com a vantagem de ainda "queimar calorias", ao contrário do doce.
O material faz parte do programa Saúde e Prevenção nas Escolas - Atitude para Curtir a Vida e aborda temas variados que vão dos efeitos colaterais do aumento de peso (espinha e preguiça) até homenagem ao cantor Cazuza, morto por Aids.”
Entre os cinco motivos para usar camisinha há a "sedução", além da "proteção": "Colocar o preservativo pode ser uma excelente brincadeira a dois. Sexo não é só penetração. Seduza, beije, cheire, experimente!".
"O foco é o jovem, não a eventual censura que possa vir de um pai".
[pais caiam fora!]
Nem discuto a questão moral, cultural e religiosa no trato sobre o sexo. Além de tratar o jovem como um animal qualquer, ora, o que é isso senão o Estado tomando papel dos pais?! Revoguem de uma vez o pátrio poder dos pais sobre os filhos, o direito à educação e à liberdade, liberdade mesma da educação dentro do esquema cultural e religioso (ou mesmo não religioso) em que a família acredita e escolhe para a educação da criança e do adolescente. Ainda mais do adolescente, que já por si só é uma relação frágil por natureza, que educação e limites sexuais os pais poderão dar aos filhos depois que vem o Estado e tira simplesmente a sua responsabilidade e mesmo respeitabilidade sobre seus rebentos?
Mais: é visível, um Estado mal sabe administrar um hospital, não consegue oferecer um sistema de saúde nem educação decentes aos mesmos pobres e menos pobres que freqüentam escolas públicas, sabe tudo de beijo, sedução e educação..... Alunos mal aprendem matemática e português, vide o resultado do Enem, pior desde 2002, mas saberão para que serve, oh, a própria língua.
Por que eu me preocupo com isso? Porque sou cética e desconfiada quando o Estado quer se meter a esse ponto na vida privada e familiar e porque um dia quero ter filhos, e pretendo educá-los segundo a minha cultura, Cristã diga-se de passagem, e não deixarei que ninguém tire minha autoridade, o pátrio poder, enquanto meu filho estiver sobre minha responsabilidade.
Também esse negócio de cartilha me incomoda um tanto, como se houvesse um manual de comportamento padrão, e pior, como se ele pudesse ser editado pelo Estado e Governo (lembra algo soviético), ainda mais vindo de um Estado podre.

*

Um ótimo texto do Reinaldo Azevedo: "Salvem as suas crianças de Lula. Ou não. Eu salvo as minhas" que fala da cartilha, da distribuição de preservativos e do que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente. Leiam, leiam!

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Enquanto espero a roupa centrifugar...

Vinte duas horas e cinqüenta e quatro minutos. Alguns antigos já escreveram cincoenta. Meu Vô deve ter escrito. Terceira vez que lembro dele hoje, o Vô. Ele sempre falava “Ordinária” com ênfase no “ná” que levava alguns segundos. E colocava a gente no colo, dava-nos cigarro de palha e contava causos. Alguns até eram verdades, e eu achava divertidíssimo outras vezes ficava meio assustada. Uma vez ele olhou meus dentes e disse que a Vó tinha dentes de coelho iguais quando era moça, e arrancou todos. Claro que ele era muito mais dramático, eu que tenho mania de sintetizar. Pausa para o amaciante. Um ano antes de falecer me contou da história do bisavô. Na época do levante tenentista (em 30), o bisa foi um dos colaboradores de Prestes, bem no começo, fornecia alimentos para o batalhão. Agora me recordo que já escrevi um texto sobre o assunto, acho. Bem. Era possuidor de muitas terras, mas era no fundo um gaúcho errante. Perdeu quase tudo. Ficou com um livro (o Vô) em que fez relatos da época, que eu acabei trazendo na mala aquele dia. De resto não sei muita coisa, a não ser que no sangue daquela família ficou algo de errante, algo da solidão melancólica dos pampas. O livro está na estante como uma lembrança do Vô. Já o que vai escrito é uma exaltação às figuras de genuínos comunistas gaúchos, não tive muita paciência para passar das primeiras páginas. Eu devolveria o livro, mas daí o Vô foi antes. E ele quis. Não foi nenhuma eutanásia. Já disseram que a se não se conhece o passado, a história, estaremos condenados a repeti-lo. Lembrou-me uma centrífuga. O Vô foi meio errante e também perdeu muita coisa na vida, por teimosia cega. E isso vai passando de geração a geração se o mal não for cortado, ou pelo menos bem retratado. Não é assim com o comunismo que Prestes queria implantar no Brasil? Hoje a figura Prestes é celebrada na história. Bem, não raro fracassados conseguem se fixar bem na história, como uma medalha de honra que recebem por suas tentativas pseudo-heróicas. Então, estamos condenados a repetir o comunismo, agora em outras vestes, uma mistura entre o romântico e caudilhismo latino-americano. Que tempos vivemos, que tempos. Seremos centrifugados? Às vezes enquanto faço as tarefas domésticas acumuladas há dias – tenho trabalhado bastante – fico pensando nessas coisas do destino do mundo, tantos os ismos. Depois me volto ao destino do tanque. Às vinte e três horas e trinta inutos. E vou pensar em outra coisa.

Riscos, etc e tal

Viver é um risco, já disse alguém um dia, disse um enxaguado na mesa de um bar, ou um indignado e/ou conformado diante de uma situação concreta. E quando o risco se torna fato, com maior ou menor força do que o previsto (ou imprevisto)? É um chororô. Aí fazem leis, regulamentações, normas internas, criam-se grupos de trabalho, isso quando não aparece o Procom, ou politizam o problema.
Há risco desde tropeçar e bater o nariz no chão, de ser pego na malha fina, até do avião bater num jatinho ou de, de repente, abrir uma cratera sob os pés enquanto andamos pela rua. Alguns são previsíveis e controles são necessários, lógico (o caso do avião e da cratera), mas não significa necessariamente que o risco não se tornará fato. Também a fatalidade não é argumentação para não se tentar prever o risco e corrigi-lo a tempo. Não dá para imaginar o engenheiro da obra do Metrô de SP falando aos familiares e às empreiteiras “a cratera foi resultado do risco inerente da vida”.
Bem, longe de ser uma teoria geral de riscos, é só para dizer que venho percebendo (pelo menos no meu meio) uma onda geral de se eliminar os riscos, custe o que custar. Como eu disse, conhecer os riscos do ambiente em que se está tudo bem, mas uma obsessão por isso me parece paranóia, ou mesmo uma forma de tapeação.
É, tapeação, explico-me: o controle do risco existe, mas quando o problema acontece de verdade, vira um jogo da batata quente, achar um responsável (ou os) não é muito fácil, porque ninguém vem assumir a responsabilidade pelo fato ou mesmo se vem não está lá muito preparado (e mesmo sem vontade) para resolver. Ou o fato mesmo de existir um controle de risco pode mascarar uma falta de responsabilidade quando é preciso que esta seja assumida.
Resumindo o imbróglio das palavras: o risco existe; ninguém quer correr riscos, quando ele acontece não há muito preparo para resolver o problema, justamente porque houve mais concentração na previsão dos riscos e menos na habilidade e consciência em resolver a questão racionalmente.
Então, na busca de eliminar riscos, criam leis e normas, e a regulamentação chegando por vezes ao extremo dos detalhes. Muita regulamentação torna qualquer erro de fácil resolução um auê, envolve muitas pessoas e não raramente demora em ser resolvido (ou nem se resolve), além de aumentar os custos do controle excessivo, criar burocracia e gerar corrupção, e mesmo injustiças na punição e gordas indenizações.
Enfim, há medo de errar e medo de assumir, e o resto fica por conta da matriz de riscos.

*

Faz tempo que penso nisso. Hoje da conversa com uma amiga rendeu o texto. Eu contava que eu mesma descobri que vinha procedendo, inadvertidamente, de forma incorreta acerca de uma questão no trabalho. Estava errado, mas não é algo grave e nem causou mortes. Alguém alhures da rotina poderia dizer “viu, faltou um sistema de risco operacional”. Pois é, custos meu bem. Preferi informar a tapear, e forneci uma solução como brinde (hehe). A decisão final por é minha conta, mas não tomo o exemplo de Pôncio Pilatos, eu preciso saber da decisão para resolver o problema. Uma semana se passou e ainda não sei se serei jogada aos abutres. Que agonia!

sábado, 27 de janeiro de 2007

Um ortopedista e nós: para os anais da medicina histriônica

Trinta segundos e.. bursite. É bursite. Que nome mais feio. E do alto da sua moralidade de esportista-rato-de-academia, ele olha penalizado da nossa vidinha sem graça, por não freqüentarmos academia regularmente, nem ao menos andarmos de bicicleta todos os dias. Meu Deus! Corram comprar duas bicicletas agora! Como vocês se suportam? Faltou perguntar. Vocês precisam de exercícios! Vejam, o Oil Man, de tanto andar de bicicleta está magro. Nossa amor, nem tinha percebido que o Oil Man está magro, jura? Ele sumiu né! Normalmente aquela sunga surrada e indecente toma toda atenção do resto. É verdade, temos de andar de bicicleta. Vamos comprar duas amanhã? Vamos, vamos. Ah é, o Oil Man não bate muito bem do juízo. Bem, nem nós. É, bicicleta todos os dias! Mocinha você está cavando seu futuro! Como? Cavar, futuro... sacaram? E tem o tendão! Ah, o tendão, foi da ilha do mel, aquela nossa aventura.... E o senhor das esteiras disse que sem salto alto! O mundo desabou! I-m-p-o-s-s-í-v-e-l! Frisei bem os hífens. Ah sim, foi nesse momento a célebre frase de cavar o futuro. Pois bem, salto também faz buraco. E escreve uma receita que nunca termina de escrever. E de falar. Assuntos transitórios. Eu olhava um quadro meio sem graça, era uma paisagem, quadro de paisagens não me agradam muito. Já morei na Amazônia, vocês precisam conhecer esses lugares, já foram para Bonito? Tomem dois meses de complexo B e vão! Vamos, não é amor, mas antes ou depois de comprarmos as bicicletas? O homem está acabando com a natueza, carne de jacaré é uma delícia, tivemos que matar uma sucuri mas nós é que invadimos o habitat dela coitada, porque morar no mato é perfeitamente viável... Santo Deus! Era um ecologista também! Não bastava já ser rato-de-academia e carioca! Era admirador do Greenpeace! Aí protestei, da baixeza da minha insignificância: se tivéssemos que viver como gostariam os ecologistas radicais, meio mundo morreria de fome. Ah, mas ele não era adepto a ecologistas radicais, imagina, ele era moderado. Ah, a Amazônia. Eu acho que a Amazônia deveria ser entregue aos índios, fechar a Amazônia e os índios a cuidariam com a sua cultura. Perfeitamente Sir, melhor assim, colocar os índios todos lá, cercados e mofando como eternamente nativos que são alheios ao desenvolvimento e benefícios do progresso. Depois os preconceituosos são os outros. Mas que é perfeitamente viável morar no mato é. Claro, claro que é, imagina mais de seis bilhões de pessoas morando no mato... Meu senso lógico não permite tal imaginação. Eu moraria no mato. Claro, ele moraria no mato, mas quero ver sem tralhas, máquina de lavar roupa e chuveiro elétrico, ou o mais básico: uma privada decente. Mas ainda quero te ver esportista. Ainda bem que ouvi esportista, não ecologista. É, vai rezando. Não, não foi pensamento, eu disse mansa e direcionando vagamente o olhar para fora da janela sem paisagem. E termina a segunda receita. E a guia? Fisioterapia (rima, rima...). Dez sessões. Adiamos em dez dias as bicicletas baby, nosso relacionamento pode agüentar. Vejam na minha idade consigo fazer isso ó... alonga a perna sobre a maca e abraça o pé. Engrandeci! Ah mas abraçar o pé eu também faço! De perna esticada? Sim, de perna esticada, e eu ainda tenho elasticidade de ginasta nos braços! Ah, nos braços eu já não tenho... ele já abria a porta para que saíssemos. Vamos amor, ou pediremos o divórcio, precisamos ver as bicicletas, esqueceu?

Inaugurando

Mudei de casa virtual. Para começar um poema meu.
Quando era ela
Quando desceu a noite
Ainda era dia naqueles olhos claros
Ela ainda pedia um pouco de jasmim
E deixar o cheiro com o pó das estrelas
Que dançavam na réstia da lua
Da luz da lua que banhava a viela.
Ela temia, como ela tremia!
Não cultivar flores na janela.
Quando viu que era dia
Desenhava no pó dos móveis
No suor da respiração no vidro
E dormia, como ela sorria!
Com a ponta dos dedos suja
Do pó, da terra das flores da janela.
Quando desceu a tardezinha
Uma última luz veio alva
Acordou seus olhos e as lágrimas
E todo o pó da sua alma!
Ela esperava a solidão noturna
Para dançar na réstia da lua rotunda
Embriagar com o cheiro doce das flores
E nas lágrimas salgadas, molhadas
Da garoa fina que cobria a viela.
Quando era noite era ela
A bailar a alma na solidão da janela!