domingo, 29 de junho de 2008

À minha irmã Mimi...

(o amor é uma decisão!)

Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

(Fernando Pessoa)

E é só, que os domingos acabam comigo.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Chegou!!!


Comprei a revista Dicta&Contradicta pela internet. Porque aqui nesta capital estas novidades não chegam, ou chegam com uma década de atraso. Curitiba é uma cidade grande que cresce em gente, shoppings, parques e carros, mas no fundo é uma cidade bem provinciana. Nesta cidade não acontece nada.
*
A revista-livro é algo como “me ame ou me odeie” (a julgar pelos comentários e pelo que já saiu por aí).
Explico: criou-se nas mentalidades uma “Síndrome de Olavo de Carvalho”, se você não é por si só um olavete, não tem problema, será taxado assim mesmo, assim como tudo que possa lembrar o Olavão, especialmente no que ele tem de bom para cima. Também há a “síndrome do cristianismo”, qualquer coisa que cogite religião Cristã é considerado um ataque à razão e você vira um fanático intolerante. Há sim, ia esquecendo da “síndrome do ultradireitismo”, qualquer coisa que cheire a conservadorismo é o sintoma e uns dos adjetivos mais utilizados é “arrogância”. Junte as três síndromes e há a terceira guerra mundial para cima do rotulado, e não é necessário saber ou discutir os porquês. Então, se o vivente de cara têm horror a estes rótulos, pode estar sofrendo de síndrome do pânico. Para esta questão toda é indicada a “intenção paradoxal” - técnica da logoterapia de Viktor Frankl: leia a revista.
*
Ainda, site-blog: www.dicta.com.br.
Entre vários textos, há áudios das últimas aulas do Bruno Tolentino.
*
(e por falar em rótulos) De um amigo: “Se você tivesse feito filosofia na faculdade hoje estaria no PSTU!”
É um pouco plausível, graças a Deus fui para os números e leis (o que na verdade não quer dizer muita coisa, né). Graças a Deus que me fez com uma veia libertária (e isto não é uma incongruência!) e que estou conhecendo gentes e coisas boas.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Quando ter lido Galeano me foi útil

Lá pelas tantas do curso Bíblico sobre o Antigo Testamento (os PC´s chamam de Primeiro Testamento!), o Professor de Teologia discorria sobre o Êxodo, da importância para o início da formação do Povo de Deus, das dificuldades e em como o povo tinha esperança, etc, etc, aí ele solta a pérola galeanesca:

Janela sobre a Utopia
Ela está no horizonte. Aproximo-me dois passos. Caminho dez passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte fica dez passos mais longe. Por muito que eu caminhe, nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isto: para caminhar.
(Eduardo Galeano)

Se eu estava com déficit de atenção naquele momento, a frase foi um chacoalhão, um “hã?” mental. E logo pensei que sobre a esperança, há alguém muito mais interessante e confiável para citar - o Papa - para aquela cambada de Católicos. Para quem compreende pouca coisa de Bíblia como eu, ainda mais do Antigo Testamento, a citação deste conhecido escritor-militante me soou esquisitíssima, a frase ficou destoada, deslocada mesmo. É praticamente impossível que o professor não soubesse quem estava citando e o sentido das suas palavras. Enfiei o sapo pela goela e tratei de prestar mais atenção à aula que estava sim interessante e cujo momento galeânico foi de passagem e eu não queria ser tão... chata.

Foi de passagem, mas pelo jeito, daquelas coisas que marcam!, embora houvesse outras partes da aula que pudessem ser mais marcantes (que ironia Moisés perdeu pra um latino...). Abro meu email e uma mensagem recomendava uma “reflexão” da citação, informada na sua versão original: e no lugar de esperança o correto é utopia. Muito bem. O sentido do pensamento de Galeano na “leitura” de utopia como esperança, não faz muita relação com o Cristianismo, ou melhor, não faz nenhuma, porque Jesus Cristo (a nova aliança) não é uma utopia terrena, mas a Verdade que nos faz ter esta esperança alegre de não desistir da aliança e do caminho para a vida eterna.

Sobre a esperança, o Papa Bento XVI escreveu uma Encíclica específica: Spe Salvi - Sobre a Esperança Cristã - que no início do documento diz:

1. « SPE SALVI facti sumus » – é na esperança que fomos salvos: diz São Paulo aos Romanos e a nós também (Rm 8,24). A « redenção », a salvação, segundo a fé cristã, não é um simples dado de facto. A redenção é-nos oferecida no sentido que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho.
(...)
hoje particularmente sentidas, devemos escutar com um pouco mais de atenção o testemunho da Bíblia sobre a esperança. Esta é, de facto, uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos « fé » e « esperança ».

E mais à frente:
É importante saber: eu posso sempre continuar a esperar, ainda que pela minha vida ou pelo momento histórico que estou a viver aparentemente não tenha mais qualquer motivo para esperar. Só a grande esperança-certeza de que, não obstante todos os fracassos, a minha vida pessoal e a história no seu conjunto estão conservadas no poder indestrutível do Amor e, graças a isso e por isso, possuem sentido e importância, só uma tal esperança pode, naquele caso, dar ainda a coragem de agir e de continuar.

A citação sozinha de Galeano pode ser "tocante", mas pelo conjunto da obra e da vida do conhecido escritor uruguaio, não é coerente, ou melhor (já que coerência sozinha não quer dizer muita coisa) - não se "encaixa” em essência no pensamento e modo de vida Cristão Católico. Neste caso, as palavras do Papa cumprem o papel de estímulo e orientação a permanecer na fé e não desistir do caminho de Cristo.
Ainda: não é uma questão meramente de gosto: eu não gosto do Galeano, gosto mais do Papa! Ah já eu gosto do Galeano e do Papa! Para mim tanto faz! É verdade que, estou no primeiro caso, mas se fosse assim, a reflexão terminaria por aí, como se nos contentássemos (ou tivéssemos que nos contentar) com um “porque sim” ou “porque não”, em nome da gentileza e da paz entre os homens... Já fui leitora de Galeano, de veias-abertas e tudo, se tivesse continuado na estrada da utopia, seria mais um que anda, anda, anda e nunca chega a lugar nenhum, ou se chega a qualquer lugar, mas teria (ô consolo!) galeanos andando na frente, sempre caminhando-e-cantando-e-seguindo-a-canção num êxodo triste que sempre recomeça sem mesmo terminar.
Talvez esteja dando muita pelota pra uma titica de nada que durou alguns segundos da aula, mas é de titica em titica que se fazem estragos e confusões na fé dos outros. E também porque eu sou chata.