quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Notas da rotina

Sempre dou uma parada no vidro de anúncios da portaria para ver se há alguma novidade. Não que eu esteja procurando alguma coisa específica, talvez seja dessas pequenas ações autônomas da rotina. Que seja. Ocorre que sempre há alguém vendendo alguma coisa em meio a anúncios de serviços. É um apartamento, é um carro, é uma cama por R$ 40,00... opa, uma cama? Chamou-me atenção aquilo, mas por que vender uma cama?! Outro dia tiravam os toldos do estacionamento, e claro, estavam vendendo os toldos, a maioria velhos e enferrujados... Tenho a impressão de que não se dá mais nada, só se vende!
* * *
E bate na porta (quase nunca alguém bate na minha porta) uma criatura “doce ou travessuras?” Como? “doce ou travessuras?” Ah... doce... Pausa (estava esperando ganhar um doce!). Depois que percebo que é “dia das bruxas”. E o que tenho que te dar? “doces!” Ah, puxa não tenho doces...Lá saio eu catando algum doce, achei umas bolachas de chocolate que não atraem crianças, ofereci. “Ah... não” e sai o guri. Que mal educado! Insisto: de chocolate! “Ah tá” pega e sai. E batem mais algumas crianças. Não tinha nenhum doce que criança goste, para uma ofereci um pudim de caixinha, virei as costas e a bruxinha “pudim de caixinha?!” Dei uma maria mole (de caixinha) e ainda disse que era melhor que a banana que ela havia ganhado. Ok, não aprecio esta data, mas vá lá, crianças... Bate a última criança, na falta de doces pedi travessura... ele de roupa de batman olha com aquela carinha meiga pintada “como assim”? Ganhou um pedaço de bolo de chocolate com côco.
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Lembrando: noto que não, o problema não é a venda de objetos, o que é algo bem normal - o comércio - e faz bem. Mas é que há coisas invendíveis, para mim uma cama normal é invendível oras! Dê para alguém que precise de uma! Conheço gente que ganha equipamentos, coisas, e depois as vende! Está faltando generosidade nas pessoas. Generosidade e observação: a generosidade é despertada (bem, quando existe “dentro” do indivíduo, imagino) quando ele observa o outro, a necessidade do outro. Claro que nem tudo é dável, por exemplo, se fosse uma cama quebrada, não se dá só porque está quebrada e não presta nem para ser vendida. Entendo que não há generosidade neste gesto, mas entendo que a generosidade está em dar (e mesmo retribuir) da melhor forma possível, porque queremos o bem do outro com o bem que damos, e fazemos.

domingo, 28 de outubro de 2007

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.


Cecília Meireles

Domgingo. Quero deixar para lá muita coisa, não porque mereça, talvez mereça, talvez não... quero passar bons momentos, celebrar a vida, porque eu acredito que apesar de tudo, apesar de todas agruras, é possível e importante celebrar a vida. É o que nos salva da selva. No fundo quem sabe eu sou uma otimista e aquela psicóloga estava errada (curso, não terapia que ainda não tenho coragem). Por falar em coragem, preciso criar coragem de mostrar o que eu mesma escrevo, meus simples poemas, por enquanto fico com Cecilia, nome da minha futura filha (se Deus quiser! não, não estou...), de qualquer forma tenho que aumentar meu repertório.
Vou terminar a capirinha e passar o domingo ao lado dos meus amores.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Das conversas à toa...

Esses dias, numa conversa à toa, surgiu-me uma idéia. Parêntese: essas conversas à toa, aparentemente fúteis e desinteressadas, é que às vezes nos salvam da rotina de pedra, da rotina de dias retos. É como se fosse um livro, mas ao invés de se abrirem folhas, abre-se o ser, não técnico e materialista, mas o ser verdadeiro que a gente abre quando se está em casa de chinelos, ou descalço mesmo (ai ai, isto é uma referência, ou influência, de "Três Alqueires e Uma Vaca", Gustavo Corção,que li este ano e não me esqueci, não é possível esquecer). Claro, não é sempre assim, digo das conversas-à-toa não forçadas, se bem que às vezes uma conversa meio forçada pode resultar numa boa conversa, quando o ser verdadeiro resolve dar as caras. Parêntese do parêntese: falar em ser verdadeiro, dá impressão (e foi de propósito) que existem dois seres num só, ou três, um verdadeiro, um mais ou menos e um falso. Sei lá. Mas que a gente fica mais reticente quando sai de casa, fica. Fim dos parênteses. Então, voltando à conversa à toa. Não foi por acaso que estava justamente em casa, em volta de uma mesa. As boas conversas geralmente se dão em volta da mesa, pode perceber, quando se tem comida e come-se sem pressa, então, são os melhores papos. Lá na mesa da casa da minha mãe, por exemplo, qualquer assunto com a grande família mezzo italiana reunida vira um grande debate (bem observou um amigo!). Mas na conversa à toa aquele dia na minha casa, estávamos conversando não sei o que. Ah lembrei, era sobre o sogro que invariavelmente acaba sendo o assunto quando nora e sogra sentam na mesa para tomar café. O sogro, segundo o diagnóstico da sogra, é meio hiperativo ou hiperativo e meio, não entendo do problema, mas a gente tende a pensar que esta coisa dá em criança... E eu pensei, de repente, que o purgatório deve ser aquele lugar onde a gente terá que controlar e curar-se das próprias ânsias, aquelas não equilibradas em vida: numa fórmula diretamente proporcional (como se as ânsias pudessem ser colocadas numa fórmula matemática), quanto maior o saldo houver (ai essa mania de contadora...), maior o tempo no purgatório até não haver o controle total das angústias, a perfeição. Também a fórmula não deve ser tão simples assim, creio eu.
Imagino que isso possa render boas, divertidas e assustadoras estórias. Ao menos rimos muito imaginando o sogro com as mãos e pés amarrados, como um parar obrigatório, para controlar a ansiedade de todo tempo estar em movimento, se não em movimento, de estar mexendo sempre com alguma coisa, um objeto, mesmo quando seria um momento de relaxar, o objeto é o controle remoto. E eu? Eu acho que ficaria, ou ficarei de repente, de jejum, para dizer o mínimo!
Assim, alguns podem pensar que o purgatório seria o próprio inferno. Não! O inferno não tem retorno, o purgatório é a segunda chance para a vida eterna. E antes mesmo de ficar nestas digressões é preciso acreditar na vida eterna, ao que outros acharão uma bobagem tremenda, alguns podem dizer que é fácil deixar para um possível depois, etc, etc, claro que o porvir da eternidade não é o lugar onde se deposita coisas da vida, para “depois eu vejo o que faço”, não, não, a própria idéia da eternidade é que assusta e é por isso mesmo que não é nada fácil e se é uma espécie de “depósito”, o estoque não poderá ser ruim, ou de todo ruim ao menos. Mas que horror pior, creio eu, é viver sem ao menos a chance da eternidade, a vida passaria a ser puramente material e temporal, purgatório e inferno seriam neste plano, sem chances do paraíso, porque o paraíso não é aqui (a própria noção de paraíso não seria lógico num mundo desses). Seria a desesperança total. Enfim já mudei de rumo... cada um com suas ânsias, purgatórios e infernos.
Voltando. É por essas e outras que em casa, de chinelos ou descalço, em volta da mesa ou não, a gente se despe das vergonhas de pensar e dizer (elas ficam na soleira da porta para quando sairmos novamente) para ser o que é. E quando até em casa há essa boba vergonha de se exprimir a alma, num sentido de se reprimir (porque um pouco pudor sempre faz bem), ai ai ai, as saudáveis conversas à toa não serão possíveis, espontâneas e tão fáceis, será preciso (suponho, não tenho fórmulas como as vendidas em pílulas de auto-ajuda) despir-se das máscaras ou corre-se o risco de viver a antecipação, não do purgatório, mas do inferno numa simples rodada de café.
O inferno é a repressão da alma e não ter liberdade de ter dessas conversas à toa, seja lá onde for.

* * *

O CERCO

Estamos todos cercados;
e o silêncio do sonho
é nossa arma sagrada:
as pistolas e as línguas de aço
dos inimigos brilham ao sol,
e eles gritam tanto
sobre as velhas colinas,
atrás das cegas estantes,
que sabemos de tudo;
e colados ficamos,
amamos e permanecemos.

Alberto da Cunha Melo (falecido em 13/10/07)

Poemas do livro O Cão de Olhos Amarelos & outros poemas inéditos
A Girafa Editora, 2006

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Meme...

Peguei aleatoriamente na estante o "A Rebelião das Massas", Ortega Y Gasset e...

A vida humana surgiu e progrediu só quando os meios com que contava estavam equilibrados pelos problemas que sentia.

Uma eternidade depois, mas eu respondi Sr. Jorge Nobre! (e não, não pretendo abandonar este espaço, apenas estou meio distante...)

Então são estas as regras:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

Tô pensando pra quem vou passar... por enquanto vai para o Cláudio, o outro Cláudio, o Aluízio.