sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Sobre Santa Catarina e digressões afins

É natural e psicológico ou naturalmente psicológico, e de repente nem é psicólogo, só natural..., que a pessoa sinta mais compaixão do que está mais próximo; um certo Jesus Cristo já dizia isso como mandamento primeiro: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. É por isso que não pode ser natural alguém que “sofra” pelos ranhentinhos da África quando não consegue conviver seu vizinho; puro sentimentalismo. Não consegue não, nem tenta. Que fosse então in loco ajudar os famintos da África. Ou as crianças lá do, sei lá, Iraque. Estes dias caí no terminal de ônibus, como disse minha irmã, desmaiei como uma madame. É verdade, fui perdendo as forças e percebi que ia cair, estendi a mão agarrando alguém; este alguém me deu a mão - ou me deu, ou porque agarrei. A MÃO. E só. Caí. Bom, no meio de muitos olhos curiosos, um olho na caída, outro no ônibus, veio uma vivente correndo me ajudar. Um detalhe é que tinha um baita crucifixo no peito. Foi comigo até o ponto em que eu desci - “vou te cuidar” ela disse.
Com a tragédia de Santa Catarina não é diferente. São vizinhos; são de “logo ali”. Dá uma vontade imensa de ajudar. E a vontade por si só não quer dizer nada; ter vontade não faz o homem ser muito diferente do macaco que eu vi lá na exposição Darwin, não. Meu Santo Pai, parece coisa de auto ajuda mezzo cristã, mas é tão óbvio ululante que até pouco tempo eu tinha vontade e ia pra cama ler. Ler é muito bom, é excelente e até, em alguns círculos, “chique”. Daí que soubemos de amigos que têm familiares em Itajaí. Perderam tudo. E precisam urgentemente do básico: água, comida, roupa, produtos de higiene. Diz que na tevê não mostra um terço do que eles estão passando. Há caminhões com ajuda chegando, não só da Defesa Civil, mas de familiares, amigos, que levam ajuda e se o caminhão parar e as pessoas desconfiarem que ali haja doações, o caminhão é invadido.
Eu lembrei do filme “Ensaio sobre a cegueira” do livro de mesmo nome de José Saramago, vi estes dias e li o livro há muito tempo; gostei muito deste livro, do filme também, apesar das bobagens que o autor já soltou (tem escritores que poderiam só escrever ficção, e olha lá, e não falar nunca nada em público) e da pontuação que ele costuma não usar (tem gente que em nome de uma “clareza” e “simplicidade”, complica a cabeça dos outros). Não que eu tenha condições de comparar uma situação ficcional com a realidade da tragédia catarinense, mas se pode ter uma idéia do caos. No entanto, o caos de Saramago é muito pior. Pior porque no mundo de Saramago há quase que só a maldade e um só restinho de esperança que é material; a maioria das pessoas é má, louca, desesperada. Não há esperança transcendente. Talvez o amor, a compaixão, esteja presente só na mulher do médico; na falta de Deus, tem uma deusa.
Do filme dá para pensar também sobre a função e a necessidade de Estado. Nas tragédias como as de Santa Catarina é que se faz necessária, obrigatória até, a presença do Estado como ente de organização que é, para ajuda material e logística. Claro que não só neste momentos de caos desespero, porque a função também é prevenir tragédias estruturando as cidades, as estradas, etc, etc. Então não sei se se pode dizer que a catástrofe tenha sido natural; foi natural a chuva caindo como namorado em fúria sobre os morros que choravam lamas, enchendo o chão (ó que romântico). Também não sei dizer se poderia prevenido tanto... O que quero dizer mesmo é a gente comum fica tocado de compaixão e muitas pessoas estão ajudando, há ainda bondade, há amor e compaixão em muitas pessoas. Há muita maldade, mas também há muito amor. Não que estas coisas se equilibrem e acho que nem devam ser equilibradas como um ying yang. Tá certo que há muita gente morna, os que falam da "fúria da natureza" se vingando do homem (eca!), e vão para casa cheios de “indignação”. E há os que aproveitam a tragédia para fazer proselitismo contra a Rede Globo que não estaria dando atenção devida ao caso de SC... Os desvalidos catarinenses? Pfff... Enquanto isso tem um monte de gente que não quer saber de vingança natureza, de birra contra a Globo, só está aguardando ansiosamente a compaixão dos outros, porque ainda há esperança, ainda há amor no próximo, e só existe esta fé no outro porque existe fé em Deus, muito diferente da “esperança” de Saramago. Tem muita gente precisando de um “eu vou te cuidar”.

PS: eu tinha outros comentários, do Reinaldo Azevedo em Curitiba, da exposição de Darwin, mas já falei demais... fica para outro.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Deus escreve certo em linhas tortas (post como um papo qualquer)

A gente ouve por aí, nos ônibus, nas ruas, nos corredores de condomínio, que Deus escreve certo por linhas tortas. Ouve e fala. Estes dias eu falei à minha manicure este adágio da massa, como quem tenta um "fecho de ouro" para minha história dos últimos dias. E ela me deu um sermão! Mas que Deus escreve certo por linhas tortas! Deus escreve certo por linhas certas! E me explica... Minha manicure, Cristã Batista, no seu modo simples é dessas que dá para conversar assuntos interessantes e mais profundos que a última capa de “Caras”. Parei para pensar: Deus realmente escreve certo e faz tudo com perfeição (considerando-se que Deus é perfeito e esta perfeição não é questionada). Logo as linhas tortas são a condição do próprio homem e esta tortuosidade é perfeitamente cabível dentro da perfeição Divina e do plano perfeito de Deus para nós. Então pensei que o ditado poderia ser “Deus escreve certo em linhas tortas”. Esta foi a minha réplica. Convergimos. A tréplica foi unhas perfeitamente feitas e pintadas.
Acerca das mudanças dos últimos dias, o que está me deixando afastada da net e das leituras que gosto (minha “diversão” tem sido estudar um imenso manual de contabilidade...) é a confirmação do que o populacho diz por aí, não que Vox populi, vox Dei, pelo menos não necessariamente. É que quando a gente reza o Pai Nosso (eu pelo menos, quando rezo), tende a engasgar em duas partes: na “seja feito a Vossa vontade” e “assim como nós perdoamos ”. Entrega e perdão, verdadeiros; não sei se há coisa mais difícil e aí está a razão da nossa felicidade... Bem, a gente entrega-mas-não-entrega e daí quando as coisas acontecem, os crentes dizem isso mesmo que Deus escreve certo.. etc, etc. Quando eu resolvi entregar para a graça de Deus uma certa intenção, eu pedia por outra pessoa. E daí que a graça vem pra mim! Logo eu que não pedi para que eu mudasse, que estava segura nas minhas escolhas! O pensamento, esta coisa belíssima e dificílima de controlar, me aparece na mente: Ó Pai, com todo respeito, Tu ta de sacanagem! Na verdade o homem tem um medo imenso do amor de Deus, justamente porque Ele nos surpreende. Sabe Deus o que Ele vai fazer de nós, tchê? E daí, depois de anos de catequese, com uns buracos de afastamento no meio, eu entendi um pouco o que quer dizer aquela primeira parte em que engasgo ou que dizia muitas vezes sem perceber o sentido. Que coisa... Claro que os anos de catequese não foram perdidos, mas chega um momento em que se começa a relacionar as coisas, simples ou mais profundas, e a perceber na vida real a presença deste imenso amor. E parece que a alma sai do raso. E eu acho que é isso que salva o homem da massa semovente e sobre a experiência de ser massa eu falo outro dia. Nestes momentos, só Deus me salva por dentro.