quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ser ou não ser

O vivente viu o seqüestro de Santo André (tem gente que não desgrudou de tevê que fez um big brother do caso) e pergunta perplexo se Deus ainda existe (a pessoa sai batendo os braços assim dos lados e olha no vazio). Dawkins diria com absoluta fé que Deus é um delírio, Deus não existe nem na remota possibilidade do ”ainda”. É assim a cada tragédia, as particulares e especialmente as escancaradas na tevê, sempre surge esta pergunta. Não surge? Não surge lá no teu íntimo? (Se tu é cristão e tem esta dúvida, corre que é tentação). Tá, mas o vivente não perguntou para Dawkins (a história é minha), mas, sei lá, para... Santo Agostinho, ou para Chesterton, ou para um vivo, um Padre honesto da paróquia mais próxima da tua casa. Ele suspira e diz “sim, meu filho, Deus existe!”. E o vivente sai desnorteado. Se Deus não existe, é o caos, precisamos de alguém que ponha ordem na bagunça (e alguém, uma organização quem sabe, vai tomar as rédeas do mundo); se existe... é o caos também, porque Ele não vem aqui e governa? (O vivente quer que Ele resolva os problemas num passe de mágica, mas o homem, o super-homem, não O quer pelas bandas da sua alma). Ora bolas, o que está acontecendo então?!? É o vivente ainda perplexo batendo os braços no lado do corpo, agora ele pára na encruzilhada e fala sozinho: o que está acontecendo? o que está acontecendo? É gente matando por “amor”? Que amor? É criança (12, 15 anos!) “descobrindo” o “amor” tão cedo! É lá em casa que filhos não respeitam os pais (a mãe piedosa demais, já perdeu toda autoridade), que filhos fingem ser o que não são e acham que enganam os pais; são pais se fazendo de bobos para não perderem os filhos para o mundo, para não perdê-los de casa, daquele quarto ora trancado, ora bagunçado... ué, mas filho não era para ser criado para o mundo? Agora o mundo está cobrando, ele quer o filho, e quer a alma do viventinho. É engraçado isso: há uma hiper-insensibilidade de filhos tiranos que massacram pais com suas birras, indiferença, etc, alimentada por uma hiper-sensibilidade de pais que querem dar tudo, ser tudo, aos filhos. E entre si falta sensibilidade para perceber as coisas mais simples. O mundo também quis Jesus e o fez Cristo; aos olhos do vivente parece que houve uma insensibilidade de Deus Pai com seu Filho; parece que há uma insensibilidade de Deus Pai conosco. Mas o Pai ressuscitou a Jesus Cristo e aí, no mistério pascal, reside a esperança do cristão que chora Eloá e que agradece a Deus por Eloá. Sinto muito, mas creio que não seja algo compreensível a não-cristãos (ainda aqueles do tipo Dawkins da vida) o que já é difícil de ser assimilado e vivido pelos próprios cristãos. Querem acabar com o mistério e deixar tudo em pratos limpos, então quebram os pratos e os jogam fora: agora todos comem com as mãos na panela. Selvagens. Deus não fez o homem para ser selvagem como não faz a rosa para ser despetalada e sem espinhos; a rosa não tem escolha, mas sua vida não deixa de ser bela; enquanto o homem pode escolher entre ser selvagem e ser Filho de Deus; entre comer na panela a reles comida morna ou comer em um banquete, com anel e sandália aos pés. O vivente, filho ou pai, está nesta encruzilhada todos os dias.