sábado, 31 de outubro de 2009

Tempos estranhos... e engraçados até

Lendo o comentário ao Evangelho de hoje (S. Lucas 14,1.7-11), lembro destes tempos estranhos, onde é bastante comum a filosofia (?) da autoconfiança, do "confie em si mesmo", "eu posso tudo", etc, encontrado em qualquer livro de autoajuda (pior: sairam dos livros e foram povoar as propagandas de sabão em pó à boca do povo), e por outro lado se admite (em falsa humildade) os vícios humanos até exaltá-los e vivê-los como se fossem virtudes. Onde há verdadeira humildade neste caldo?

«O que se humilha será exaltado»
A humildade não consiste apenas em desconfiarmos de nós mesmos, mas também em confiarmos em Deus; a desconfiança de nós e das nossas próprias forças produz a confiança em Deus, e desta confiança nasce a generosidade de espírito.

De São Francisco de Sales (1567-1622), Bispo de Genebra e Doutor da Igreja Entretien 5

Vale a pena ler o restante, que fala da humildade de Nossa Senhora.

Fonte Evangelho Quotidiano

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...e tempos engraçados

Não tem muito haver com o comentário acima (ou até tem, considerando a humildade).
Requião, Governador do Estado do Paraná, fez uma piada infeliz na sua escolinha relacionando câncer e gays. Aliás, ele é chegado a comentários polêmicos e/ou antipáticos, na sua conhecida candura. Acho que esta nem deve ser a pior coisa que ele já disse, mas também não faço coleção das suas frases para comparar. Talvez o Governador quis fazer graça ou, como ele mesmo disse, usou de "tom lúdico", só que com gente que não leva desaforo para casa, pelo contrário, não se contentam com dar um puxão de orelha (merecido neste caso), mas parece que há necessidade de espinafrar e enfatizar o assunto. Claro que o governador fez uma piada sem graça, mas, por outro lado, neste episódio se percebe que não se pode falar um “ai” sequer de gays e companhia, a turma está preparada e mobilizada para por a boca no trombone, numa resposta que pode ser exagerada e desproporcional a própria coisa dita. É a ditadura do politicamente correto que sai no braço com a falta de decoro.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Últimas semanas...

Agora falta pouco, de quatro a seis semanas, mas já me falaram - as mais experientes - que as malas já devem estar prontas caso ocorra uma emergência. Nestes últimos dias até o final devo controlar rigorosamente a pressão alta. Levei um susto esta semana, fiquei dois dias em repouso, provavelmente ficarei mais tempo em casa antes do parto. Eu disse acima que é fácil abraçar o caos nos momentos difíceis e realmente não é fácil controlar o nervosismo na hora de uma crise de pressão, rezo pedindo calma e Fortaleza, sozinha é impossível.
E eu nunca imaginei sentir tanta emoção em em lavar as roupinhas dele e ver o varal cheio de peças que cabem na mão, e ainda ficar cheirando depois de limpas. Eu nunca pensei que seriam tão fortes e diferentes os sentimentos. Eu nem sabia que pidia sentir tanto.
E especialmente neste dia dia da Virgem Santa, Nossa Senhora rogai por nós!

Abraçando o caos (divagando em dia chuvoso)

Chove o dilúvio. Daí as gentes acostumadas ao concreto se apavoram, as “acostumadas” ao barranco no leito de rios que transbordam, também, mas eu acho que de forma bem diferente, com mais justificativa (eu nem consigo imaginar com profundidade a situação). Só sei que muita gente se apavora na segurança do asfalto, do carro. Lembro que, quando eu era pequena, nos dias de tempestade a mãe queimava como incenso os ramos secos que guardava da Missa de Ramos, rezando e pedindo proteção, menos por medo e mais por temor ao Criador.

Os dias de tempestade ou mesmo de forte chuva causam este apavoramento porque a situação foge do nosso controle - qualquer possibilidade de controle. Parece a fúria de algo ou alguém nos dizendo: vocês não são tão independentes quanto pretendem ser. Não acredito que seja fúria (seja de Deus, seja – para os que acreditam – de “Gaia” se vingando das maldades cometidas pelo homem, esta bobajada toda). Mas acredito no que podem ser avisos: nós – raça humana - não somos independentes do Criador, apesar da declaração de independência que demos, apesar de todo controle que tentamos estabelecer.

Não estou dizendo que controles não sejam úteis e necessários, especialmente para manter a ordem social e evitar o seu contrário – o caos social. Mas isso só nos faz mais dependentes de outras ferramentas, não quer dizer que estamos seguros como numa cama fofa, mesmo que nos sintamos confortáveis. Nunca estaremos seguros, nunca estaremos plenamente satisfeitos.

É da natureza humana, a gente nasce com esta... vontade de busca? vazio? saudade? Ouvi um Padre dizer certa vez (algo como) que já nascemos com saudades de Deus e determinados a voltar para o abraço Dele (ele não disse “abraço”, eu que tô dizendo). A única coisa, quem sabe, que seja determinada na nossa vida (pensei e penso eu).

Daí chove, as ruas ficam feias, as pessoas mais ainda. Ou acontece alguma outra situação dramática (e nem precisa ser tanto) neste caminho entre a independência e o abraço. Apego demais a própria noção de segurança e independência, abraça-se o caos e fica muito fácil cair no desespero. É bom lembrar o que ou quem se quer abraçar, no presente e no juízo.