segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Abraçando o caos (divagando em dia chuvoso)

Chove o dilúvio. Daí as gentes acostumadas ao concreto se apavoram, as “acostumadas” ao barranco no leito de rios que transbordam, também, mas eu acho que de forma bem diferente, com mais justificativa (eu nem consigo imaginar com profundidade a situação). Só sei que muita gente se apavora na segurança do asfalto, do carro. Lembro que, quando eu era pequena, nos dias de tempestade a mãe queimava como incenso os ramos secos que guardava da Missa de Ramos, rezando e pedindo proteção, menos por medo e mais por temor ao Criador.

Os dias de tempestade ou mesmo de forte chuva causam este apavoramento porque a situação foge do nosso controle - qualquer possibilidade de controle. Parece a fúria de algo ou alguém nos dizendo: vocês não são tão independentes quanto pretendem ser. Não acredito que seja fúria (seja de Deus, seja – para os que acreditam – de “Gaia” se vingando das maldades cometidas pelo homem, esta bobajada toda). Mas acredito no que podem ser avisos: nós – raça humana - não somos independentes do Criador, apesar da declaração de independência que demos, apesar de todo controle que tentamos estabelecer.

Não estou dizendo que controles não sejam úteis e necessários, especialmente para manter a ordem social e evitar o seu contrário – o caos social. Mas isso só nos faz mais dependentes de outras ferramentas, não quer dizer que estamos seguros como numa cama fofa, mesmo que nos sintamos confortáveis. Nunca estaremos seguros, nunca estaremos plenamente satisfeitos.

É da natureza humana, a gente nasce com esta... vontade de busca? vazio? saudade? Ouvi um Padre dizer certa vez (algo como) que já nascemos com saudades de Deus e determinados a voltar para o abraço Dele (ele não disse “abraço”, eu que tô dizendo). A única coisa, quem sabe, que seja determinada na nossa vida (pensei e penso eu).

Daí chove, as ruas ficam feias, as pessoas mais ainda. Ou acontece alguma outra situação dramática (e nem precisa ser tanto) neste caminho entre a independência e o abraço. Apego demais a própria noção de segurança e independência, abraça-se o caos e fica muito fácil cair no desespero. É bom lembrar o que ou quem se quer abraçar, no presente e no juízo.

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