quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Adjetivos, Obviedades, etc

O óvio ululante: compreender que se OUVE e filtrar o que se DIZ é faculdade da sapiência e do espírito de pensar.
Para citar alguém mais famoso: "O homem prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz." Aristóteles
E ainda, a sabedoria popular: fala o que quer, ouve o que não quer.
O fato (resumidamente e sem entrar em detalhes): a pessoa foi extremamente grosseira com outra numa determinada situação, sem motivo aparente, porque: (1) ela (a grossa) não gostava da outra; e (2) porque ela (a grossa, segundo ela mesma) fala tudo o que pensa na lata.
Bem, ninguém é obrigado a gostar de outra pessoa, mas o fato de não gostar não justifica sair esbofeteando com palavras (ainda mais com atitudes) o desgostado quando este não dá motivo justo. Acredito que isto seja ponto pacífico.
O caso é "falar tudo o que pensa". Ora, é compreensível, considerando que o intestino caga tudo quanto é detrito, a pessoa que não processa (ou discerne) informações, dados e sentimentos, vai agir como um intestino mal regulado no sentido inverso, ou seja, uma caganeira de palavras, que resulta muitas vezes numa crítica vazia, a crítica pela crítica.
É por isso que a pessoa foi feita com cérebro, dotada de capacidade de pensar, a chamada inteligência. Tá. Mas só a inteligência não basta, porque até pessoas muito inteligentes, doutoras até, podem ser um intestino solto "enquanto gente"; é por isso que também é preciso a tal da sapiência. Para os Cristãos, a inteligência e sapiência são dois dos Dons do Espírito Santo, os chamados, respectivamente: Dom do Entendimento (ou da Inteligência) e Dom da Sabedoria (link para um texto explicativo).
Em Ortodoxia (que estou tentando ler pela segunda vez e provavelmente vou ler mais algumas vezes), Chesterton fala das virtudes tresloucadas (obs: é meio complicado recortar Chesterton, porque a idéia toda não se concentra apenas neste parágrafo):

“O mundo moderno não é mau. Sob alguns aspectos, o mundo moderno é bom demais. Está cheio de virtudes insensatas e desperdiçadas. Quando um sistema religioso é estilhaçado (como foi estilhaçado o cristianismo na Reforma), não são apenas os vícios que são liberados. Os vícios são, de fato, liberados, e eles circulam e causam dano. Mas as virtudes também são liberadas; e as virtudes circulam muito mais loucamente, e elas causam um dano mais terrível. O mundo moderno está cheio de velhas virtudes cristãs enlouquecidas. As virtudes enlouqueceram porque foram isoladas uma da outra e estão circulando sozinhas.” (Ed. Mundo Cristão, 2008.p.52)

A partir daí, concluo que a sinceridade, que é algo bom, dissociada do discernimento, deste processo de pensar e mesmo da caridade conforme a situação - a sinceridade pura e solta -, não quer dizer nada, não vai aproximar as pessoas ou melhorar os relacionamentos; e isso não quer dizer que a mentira seja necessária, não!
Por exemplo: não é raro ouvir mulheres que dizer que a qualidade que mais apreciam no outro é a sinceridade. Tá. A mulher casa (ou "junta", como é moderno) com um supersincero que diz que ela está gorda ou com o cabelo feio mesmo quando ela não pergunta (e o homem que entende um pouco sua mulher vai saber que isto não se diz nem quando ela pergunta!), até quando se agüentaria um homem assim? Lembrei que houve um sitcom com Luiz Fernando Guimarães com este título mesmo "Super Sincero", era bem ilustrativo.
Enfim, ao mesmo tempo em que há maior liberdade de pensamento (digamos assim, no sentido do pensamento totalmente desvinculado, vinculado tão somente a uma tal "consciência" do indivíduo), é como se as pessoas ficassem mais radicais; parece ser o caso da sinceridade: para que se cumpra a todo tempo minha invejável qualidade de ser sincero, eu te achato a alma com palavras. E a sinceridade que era uma boa qualidade, vira uma ruindade, e às vezes se diz que a pessoa é de uma personalidade forte quando é uma chata com dor de barriga mental e espiritual.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A Vida...

“A vida não é governada pela sorte, nem é casual. A vossa existência pessoal foi querida por Deus, abençoada por Ele, tendo-lhe dado uma finalidade (cf. Gen 1, 28). A vida não é uma mera sucessão de fatos e experiências, por mais úteis que muitos deles se possam revelar. Mas é uma busca da verdade, do bem e da beleza. É precisamente para tal fim que fazemos as nossas opções, exercemos a nossa liberdade e nisso mesmo, isto é, na verdade, no bem e na beleza, encontramos felicidade e alegria.”

Papa Bento XVI no discurso da Jornada Mundial da Juventude/2008 - Sidney/Austrália 17/07/2008
www.visitadopapa.org.br

P.S.: estou buscando inspiração e organizando o tempo, e vice versa.

sábado, 2 de agosto de 2008

O pobre e a geração de filhos

Acho estranha a mentalidade que defende o controle do número de filhos para os pobres, porque, segundo tal mentalidade, o pobre exigiria que o estado custeasse seus gastos e pagasse uma bolsa-filho. Em tese, o raciocínio é coerente: os pobres precisam mais da assistência do estado: quanto mais filhos, mais esta necessidade cresce, logo, a pessoa que paga imposto e que não é pobre, acha justo que os pobres tenham menos filhos (inclusive um com controle rigoroso através de política pública) e absurdo o contrário, como se o sujeito desta mentalidade tivesse uma autoridade maior, conferida pelo status monetário, para julgar a questão, como se não houvesse a possibilidade de no futuro ela mesma vir a ser um pobre e deste construir um império financeiro. Interessante que a recíproca (do critério) não é válida, já que os mais afortunados geralmente não querem ter mais que dois filhos (um já está mais do que bom).
Coerência não é tudo, não quer dizer que um raciocínio não seja torto e este raciocínio é torto para o lado impiedoso com a pessoa pobre. Contudo, não estou defendendo aqui a pobreza e permanência da pessoa nesta condição e a geração e criação irresponsável dos filhos. Quero ressaltar que o raciocínio torto está justamente na condição financeira como critério primeiro para emancipação da liberdade da pessoa e também da sua privacidade, ou seja, a intromissão de terceiros na sua vida pessoal e familiar, através de controles sociais e legais, etc, (algo que o não-pobre não deseja para si). Lógico que o dinheiro ajuda na conquista das escolhas, porém antes do dinheiro há o indivíduo.
O problema, entendo eu, não está na quantidade de filhos que o pobre faz, mas no tipo de assistência viciante dada pelo Estado. É claro que o pobre (e também a classe média, oras) precisa mais do SUS, porque ele não pode pagar um plano de saúde, precisa de escolas públicas porque não pode pagar uma particular; o Estado está aí justamente para suprir este tipo de necessidade da população que mais precisa, até dando algum tipo de subsistência aos miseráveis sim, além dos serviços comuns a todo mundo, como segurança. A assistência que vicia, a bolsa qualquer coisa que não pede contrapartida e assim não emancipa o pobre da necessidade do Estado, cria uma necessidade permanente e isto é que é ruim e, combinada a outros fatores, como falta de educação (desde o berço), etc, e sobretudo a vontade e responsabilidade individuais (o “pobre honesto”), cria este tipo de situação que dá margem a mentalidade impiedosa do não-pobre.
Bons e sensatos são aqueles que trocam o carro todo ano (não que isso seja ruim!) e acham que por isso podem julgar e definir critérios para algo tão importante na vida da pessoa e também para a continuidade da espécie humana, que é o filho. Engraçado é que nem “liberais” (no sentido econômico) escapam desta mentalidade: são anti-socialistas/marxistas ferrenhos e ao mesmo tempo colocam a economia como base para formação do indivíduo e da sua liberdade.
Enfim, quero ressaltar que não saio na defesa ideológica de um levante dos pobres contra os não pobres, a famosa luta de classes, apenas defendo (1) a liberdade e privacidade da pessoa independente da sua condição financeira; (2) responsabilidade individual para geração e criação de filhos (que começa com a responsabilidade na vida sexual); e (3) a piedade para com o outro.