terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Alalaô ô ô ô ô! Esperando o carnaval não chegar!

O que mais gosto em Curitiba é o péssimo carnaval. Um carnaval de cavar depressão em baiano. Não sei se alguém já se esforçou para melhorar a situação. Se fosse eu pioraria e ainda correria o risco de atrair muitos turistas com o slogan: Curitiba, a cidade anti-Carnaval! Uma pessoa de ar cool e sorriso discreto, um céu mezzo cinza atrás. Ah, a cidade maravilhosa é aqui!

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Bonecos de Judas

Ah sim, o caso do menino João. Nem comentei aqui de tanto que falam. Fiquei chocadíssima como todo mundo. Não raro a gente anônima para aí, no choque e perde a reação. Se quiser reagir, protestar não sabe como. Como Católica não dá pra contar nem com a CNBB que veio a público dizer “Não me parece adequado reduzir a maioridade penal, não podemos agir sob efeito do pânico. São situações de barbárie, insensibilidade, que deveriam ser condenadas por todos através da educação preventiva, e não repressiva” dom Odilo Scherer (secretário-geral da CNBB).
Os facínoras que arrastaram o menino precisam ser educados gente! Aplicar a LEI sobre eles significa repressão!!! É óbvio que precisa haver prevenção, educação, mas chega uma hora na vida em que a gente já foi educado no mínimo para não ser selvagem e precisa assumir as responsabilidades dos atos! Aliás, muita gente vai concordar com a CNBB neste ponto balançando a cabeça positivamente e haverá mais gritaria contra os Bispos por outra declaração, mas isso já é outro assunto.
Não raro escuto também que criminosos estão sob efeito de drogas. Não esse, os caras estavam lúcidos. Um deles - Diego Nascimento da Silva, 18 teria dito "É um boneco de Judas” à uma testemunha que perseguiu o carro. Ouvi também gente que fala do ambiente de violência, pobreza que vivem “essas pessoas” (os criminosos). Vão catar coquinho na ladeira! Fosse por isso estaríamos pior do que estamos tamanho o número de pobres.
Depois da fase do choque, surgem as justificativas “sociais” para o crime [como se pudesse haver uma] e mostram o lado humano dos bandidos. O tal Diego adorava crianças, diz a notícia. Já não importa mais, isso não vai [ou não deveria] prevalecer sobre o fato principal e nem livrar das penas da lei. Mas como sabemos, a lei para crimes hediondos foi abrandada nestepaiz, e logo logo ele estará livre leve e solto pelas ruas.
A cada crime hediondo é isso aí: todos ficam chocados e depois esquecidos, até que outro crime aconteça. Os padres de passeata, os juristas, os políticos, que vão pedir calma à família do João, vão! Por mim, só peço calma e racionalidade às hordas selvagens que se precipitam em contrapartida a esses crimes: estão linchando a casa da família dos criminosos, se pudessem fariam com eles o mesmo que fizeram com a criança. Não é assim que deveria funcionar num mundo civilizado (educado) e onde deveria funcionar o Estado de Direito (a tal “repressão”).
Já não somos mais só bobos da corte, somos também bonecos de judas, afinal ao que parece, a culpa é nossa, é sempre da sociedade, do João, e não do criminoso, um “não educado” e “excluído” das políticas públicas para a não violência. Enquanto o óbvio ululante é praticamente ignorado: o perfil de maldade pura e simples.

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Quero ver se a “discussão” sobre a maioridade penal vai resultar em alguma coisa que não o esquecimento, ou o arquivamento (antes da discussão propriamente dita já há a certeza da não redução). Por ora, César Maia já deu sua contribuição para resolver o problema: cercear a liberdade dos inocentes, um pouco mais do que já é.
É hora de se dar respaldo legal para a retirada de menores da rua, compulsoriamente, quando circulam sem destino. Se a matrícula no ensino fundamental é obrigatória, por que estar na rua fora da escola é um direito?

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Sem título

Às vezes eu penso [nós pensamos] em sair do país, morar em outro lugar, ver e ter outros problemas. Depois a gente faz uma dívida que nos prende aqui. E tem a grande família. E [penso] ir para onde se o mundo parece caminhar para o lugar comum, o igual? Um dia vamos, mas por outros motivos que não sejam os de fuga.
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“Outrora podia ventilar-se a atmosfera confinada de um país abrindo-se as janelas que dão para outro. Mas agora esse expediente não serve para nada, porque em outro país a atmosfera é tão irrespirável como no próprio. Daí a sensação opressora de asfixia.”“A Rebelião das Massas”, Ortega y Gasset, pág. 22 (comecei ler há pouco).
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Este livro foi um achado num site de livros.... aliás, o site Estante Virtual também foi um achado. Prevejo que será a minha perdição virtual!
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Tenho, sempre tive, sérios problemas em colocar títulos. Fiquei uma hora ou mais tentando achar um subtítulo ao blog. Também tenho sérios problemas com subtítulos.
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Eu amo meu marido porque [entre outras coisas] ele me diz rimas dessas: “Amor do meu coração, por você eu lambo até sabão”.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

A "Agendinha" do Estado x Pais

Parece-me que o governo adora uma cartilha, lembro daquele caso das cartilhas de propaganda do governo em que foram parar no partido petista e que no final das contas não descobriram o paradeiro, exceto claro a conta que foi parar no bolso de alguém.
Ah, mas nada como um cartilha atrás da outra. A cartilha da hora que o governo pretende distribuir nas escolas públicas, é sobre o sexo [acredite, o Estado sabe tudo sobre isso!], espécie de "diário" (com cadeado ou sem?), uma brilhante idéia dos ministérios da saúde e da educação de uma sempre "bem intencionada" "política pública" (e neste guarda-chuva tanta coisa!), destinada a uma faixa bem abrangente de jovens: entre 13 e 19 anos. Sim, treze!
A cartilha, segundo duas notícias da Folha (clique no texto para ver a notícia)
“O governo federal elaborou e vai distribuir para estudantes de escolas públicas de 13 a 19 anos uma "agendinha" com dicas sobre beijo, sedução, masturbação e saúde. Polêmica, a cartilha inclui até uma lista a ser preenchida com as melhores "ficadas" -relacionamentos-relâmpago entre jovens.
Na parte sobre beijos, a cartilha orienta que "beijar muitos desconhecidos numa única noite não é tão bom assim", pelo risco de doenças. Mas compara o beijo ao chocolate, por "aguçar todos os sentidos" e "liberar endorfinas", com a vantagem de ainda "queimar calorias", ao contrário do doce.
O material faz parte do programa Saúde e Prevenção nas Escolas - Atitude para Curtir a Vida e aborda temas variados que vão dos efeitos colaterais do aumento de peso (espinha e preguiça) até homenagem ao cantor Cazuza, morto por Aids.”
Entre os cinco motivos para usar camisinha há a "sedução", além da "proteção": "Colocar o preservativo pode ser uma excelente brincadeira a dois. Sexo não é só penetração. Seduza, beije, cheire, experimente!".
"O foco é o jovem, não a eventual censura que possa vir de um pai".
[pais caiam fora!]
Nem discuto a questão moral, cultural e religiosa no trato sobre o sexo. Além de tratar o jovem como um animal qualquer, ora, o que é isso senão o Estado tomando papel dos pais?! Revoguem de uma vez o pátrio poder dos pais sobre os filhos, o direito à educação e à liberdade, liberdade mesma da educação dentro do esquema cultural e religioso (ou mesmo não religioso) em que a família acredita e escolhe para a educação da criança e do adolescente. Ainda mais do adolescente, que já por si só é uma relação frágil por natureza, que educação e limites sexuais os pais poderão dar aos filhos depois que vem o Estado e tira simplesmente a sua responsabilidade e mesmo respeitabilidade sobre seus rebentos?
Mais: é visível, um Estado mal sabe administrar um hospital, não consegue oferecer um sistema de saúde nem educação decentes aos mesmos pobres e menos pobres que freqüentam escolas públicas, sabe tudo de beijo, sedução e educação..... Alunos mal aprendem matemática e português, vide o resultado do Enem, pior desde 2002, mas saberão para que serve, oh, a própria língua.
Por que eu me preocupo com isso? Porque sou cética e desconfiada quando o Estado quer se meter a esse ponto na vida privada e familiar e porque um dia quero ter filhos, e pretendo educá-los segundo a minha cultura, Cristã diga-se de passagem, e não deixarei que ninguém tire minha autoridade, o pátrio poder, enquanto meu filho estiver sobre minha responsabilidade.
Também esse negócio de cartilha me incomoda um tanto, como se houvesse um manual de comportamento padrão, e pior, como se ele pudesse ser editado pelo Estado e Governo (lembra algo soviético), ainda mais vindo de um Estado podre.

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Um ótimo texto do Reinaldo Azevedo: "Salvem as suas crianças de Lula. Ou não. Eu salvo as minhas" que fala da cartilha, da distribuição de preservativos e do que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente. Leiam, leiam!

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Enquanto espero a roupa centrifugar...

Vinte duas horas e cinqüenta e quatro minutos. Alguns antigos já escreveram cincoenta. Meu Vô deve ter escrito. Terceira vez que lembro dele hoje, o Vô. Ele sempre falava “Ordinária” com ênfase no “ná” que levava alguns segundos. E colocava a gente no colo, dava-nos cigarro de palha e contava causos. Alguns até eram verdades, e eu achava divertidíssimo outras vezes ficava meio assustada. Uma vez ele olhou meus dentes e disse que a Vó tinha dentes de coelho iguais quando era moça, e arrancou todos. Claro que ele era muito mais dramático, eu que tenho mania de sintetizar. Pausa para o amaciante. Um ano antes de falecer me contou da história do bisavô. Na época do levante tenentista (em 30), o bisa foi um dos colaboradores de Prestes, bem no começo, fornecia alimentos para o batalhão. Agora me recordo que já escrevi um texto sobre o assunto, acho. Bem. Era possuidor de muitas terras, mas era no fundo um gaúcho errante. Perdeu quase tudo. Ficou com um livro (o Vô) em que fez relatos da época, que eu acabei trazendo na mala aquele dia. De resto não sei muita coisa, a não ser que no sangue daquela família ficou algo de errante, algo da solidão melancólica dos pampas. O livro está na estante como uma lembrança do Vô. Já o que vai escrito é uma exaltação às figuras de genuínos comunistas gaúchos, não tive muita paciência para passar das primeiras páginas. Eu devolveria o livro, mas daí o Vô foi antes. E ele quis. Não foi nenhuma eutanásia. Já disseram que a se não se conhece o passado, a história, estaremos condenados a repeti-lo. Lembrou-me uma centrífuga. O Vô foi meio errante e também perdeu muita coisa na vida, por teimosia cega. E isso vai passando de geração a geração se o mal não for cortado, ou pelo menos bem retratado. Não é assim com o comunismo que Prestes queria implantar no Brasil? Hoje a figura Prestes é celebrada na história. Bem, não raro fracassados conseguem se fixar bem na história, como uma medalha de honra que recebem por suas tentativas pseudo-heróicas. Então, estamos condenados a repetir o comunismo, agora em outras vestes, uma mistura entre o romântico e caudilhismo latino-americano. Que tempos vivemos, que tempos. Seremos centrifugados? Às vezes enquanto faço as tarefas domésticas acumuladas há dias – tenho trabalhado bastante – fico pensando nessas coisas do destino do mundo, tantos os ismos. Depois me volto ao destino do tanque. Às vinte e três horas e trinta inutos. E vou pensar em outra coisa.

Riscos, etc e tal

Viver é um risco, já disse alguém um dia, disse um enxaguado na mesa de um bar, ou um indignado e/ou conformado diante de uma situação concreta. E quando o risco se torna fato, com maior ou menor força do que o previsto (ou imprevisto)? É um chororô. Aí fazem leis, regulamentações, normas internas, criam-se grupos de trabalho, isso quando não aparece o Procom, ou politizam o problema.
Há risco desde tropeçar e bater o nariz no chão, de ser pego na malha fina, até do avião bater num jatinho ou de, de repente, abrir uma cratera sob os pés enquanto andamos pela rua. Alguns são previsíveis e controles são necessários, lógico (o caso do avião e da cratera), mas não significa necessariamente que o risco não se tornará fato. Também a fatalidade não é argumentação para não se tentar prever o risco e corrigi-lo a tempo. Não dá para imaginar o engenheiro da obra do Metrô de SP falando aos familiares e às empreiteiras “a cratera foi resultado do risco inerente da vida”.
Bem, longe de ser uma teoria geral de riscos, é só para dizer que venho percebendo (pelo menos no meu meio) uma onda geral de se eliminar os riscos, custe o que custar. Como eu disse, conhecer os riscos do ambiente em que se está tudo bem, mas uma obsessão por isso me parece paranóia, ou mesmo uma forma de tapeação.
É, tapeação, explico-me: o controle do risco existe, mas quando o problema acontece de verdade, vira um jogo da batata quente, achar um responsável (ou os) não é muito fácil, porque ninguém vem assumir a responsabilidade pelo fato ou mesmo se vem não está lá muito preparado (e mesmo sem vontade) para resolver. Ou o fato mesmo de existir um controle de risco pode mascarar uma falta de responsabilidade quando é preciso que esta seja assumida.
Resumindo o imbróglio das palavras: o risco existe; ninguém quer correr riscos, quando ele acontece não há muito preparo para resolver o problema, justamente porque houve mais concentração na previsão dos riscos e menos na habilidade e consciência em resolver a questão racionalmente.
Então, na busca de eliminar riscos, criam leis e normas, e a regulamentação chegando por vezes ao extremo dos detalhes. Muita regulamentação torna qualquer erro de fácil resolução um auê, envolve muitas pessoas e não raramente demora em ser resolvido (ou nem se resolve), além de aumentar os custos do controle excessivo, criar burocracia e gerar corrupção, e mesmo injustiças na punição e gordas indenizações.
Enfim, há medo de errar e medo de assumir, e o resto fica por conta da matriz de riscos.

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Faz tempo que penso nisso. Hoje da conversa com uma amiga rendeu o texto. Eu contava que eu mesma descobri que vinha procedendo, inadvertidamente, de forma incorreta acerca de uma questão no trabalho. Estava errado, mas não é algo grave e nem causou mortes. Alguém alhures da rotina poderia dizer “viu, faltou um sistema de risco operacional”. Pois é, custos meu bem. Preferi informar a tapear, e forneci uma solução como brinde (hehe). A decisão final por é minha conta, mas não tomo o exemplo de Pôncio Pilatos, eu preciso saber da decisão para resolver o problema. Uma semana se passou e ainda não sei se serei jogada aos abutres. Que agonia!