sábado, 27 de janeiro de 2007

Um ortopedista e nós: para os anais da medicina histriônica

Trinta segundos e.. bursite. É bursite. Que nome mais feio. E do alto da sua moralidade de esportista-rato-de-academia, ele olha penalizado da nossa vidinha sem graça, por não freqüentarmos academia regularmente, nem ao menos andarmos de bicicleta todos os dias. Meu Deus! Corram comprar duas bicicletas agora! Como vocês se suportam? Faltou perguntar. Vocês precisam de exercícios! Vejam, o Oil Man, de tanto andar de bicicleta está magro. Nossa amor, nem tinha percebido que o Oil Man está magro, jura? Ele sumiu né! Normalmente aquela sunga surrada e indecente toma toda atenção do resto. É verdade, temos de andar de bicicleta. Vamos comprar duas amanhã? Vamos, vamos. Ah é, o Oil Man não bate muito bem do juízo. Bem, nem nós. É, bicicleta todos os dias! Mocinha você está cavando seu futuro! Como? Cavar, futuro... sacaram? E tem o tendão! Ah, o tendão, foi da ilha do mel, aquela nossa aventura.... E o senhor das esteiras disse que sem salto alto! O mundo desabou! I-m-p-o-s-s-í-v-e-l! Frisei bem os hífens. Ah sim, foi nesse momento a célebre frase de cavar o futuro. Pois bem, salto também faz buraco. E escreve uma receita que nunca termina de escrever. E de falar. Assuntos transitórios. Eu olhava um quadro meio sem graça, era uma paisagem, quadro de paisagens não me agradam muito. Já morei na Amazônia, vocês precisam conhecer esses lugares, já foram para Bonito? Tomem dois meses de complexo B e vão! Vamos, não é amor, mas antes ou depois de comprarmos as bicicletas? O homem está acabando com a natueza, carne de jacaré é uma delícia, tivemos que matar uma sucuri mas nós é que invadimos o habitat dela coitada, porque morar no mato é perfeitamente viável... Santo Deus! Era um ecologista também! Não bastava já ser rato-de-academia e carioca! Era admirador do Greenpeace! Aí protestei, da baixeza da minha insignificância: se tivéssemos que viver como gostariam os ecologistas radicais, meio mundo morreria de fome. Ah, mas ele não era adepto a ecologistas radicais, imagina, ele era moderado. Ah, a Amazônia. Eu acho que a Amazônia deveria ser entregue aos índios, fechar a Amazônia e os índios a cuidariam com a sua cultura. Perfeitamente Sir, melhor assim, colocar os índios todos lá, cercados e mofando como eternamente nativos que são alheios ao desenvolvimento e benefícios do progresso. Depois os preconceituosos são os outros. Mas que é perfeitamente viável morar no mato é. Claro, claro que é, imagina mais de seis bilhões de pessoas morando no mato... Meu senso lógico não permite tal imaginação. Eu moraria no mato. Claro, ele moraria no mato, mas quero ver sem tralhas, máquina de lavar roupa e chuveiro elétrico, ou o mais básico: uma privada decente. Mas ainda quero te ver esportista. Ainda bem que ouvi esportista, não ecologista. É, vai rezando. Não, não foi pensamento, eu disse mansa e direcionando vagamente o olhar para fora da janela sem paisagem. E termina a segunda receita. E a guia? Fisioterapia (rima, rima...). Dez sessões. Adiamos em dez dias as bicicletas baby, nosso relacionamento pode agüentar. Vejam na minha idade consigo fazer isso ó... alonga a perna sobre a maca e abraça o pé. Engrandeci! Ah mas abraçar o pé eu também faço! De perna esticada? Sim, de perna esticada, e eu ainda tenho elasticidade de ginasta nos braços! Ah, nos braços eu já não tenho... ele já abria a porta para que saíssemos. Vamos amor, ou pediremos o divórcio, precisamos ver as bicicletas, esqueceu?

Inaugurando

Mudei de casa virtual. Para começar um poema meu.
Quando era ela
Quando desceu a noite
Ainda era dia naqueles olhos claros
Ela ainda pedia um pouco de jasmim
E deixar o cheiro com o pó das estrelas
Que dançavam na réstia da lua
Da luz da lua que banhava a viela.
Ela temia, como ela tremia!
Não cultivar flores na janela.
Quando viu que era dia
Desenhava no pó dos móveis
No suor da respiração no vidro
E dormia, como ela sorria!
Com a ponta dos dedos suja
Do pó, da terra das flores da janela.
Quando desceu a tardezinha
Uma última luz veio alva
Acordou seus olhos e as lágrimas
E todo o pó da sua alma!
Ela esperava a solidão noturna
Para dançar na réstia da lua rotunda
Embriagar com o cheiro doce das flores
E nas lágrimas salgadas, molhadas
Da garoa fina que cobria a viela.
Quando era noite era ela
A bailar a alma na solidão da janela!