quarta-feira, 23 de julho de 2008

Onde há fumaça...

O vivente que se achava livre-leve-solto depois do advento do iluminismo, da paulicéia desvairada, do woodstock, enfim, depois que o mundo moderno surgiu no horizonte para clarear a era das trevas - onde a consciência, subconsciência e adjacências eram reprimidas pelos valores morais sobretudo religiosos; depois que os "valores" passaram a depender das circustâncias e parâmetro passa a ser o próprio umbigo... então, o vivente achava que tinha nascido na geração certa, a geração do carpe diem e viveria tudo, feliz da vida, sem lenço, sem documento, sem padrões e sem padres. Nananinanão. Se o norte moral-ético metafísico é um convite, ou seja, é vonluntário, e gera uma transformação individual em que o ser é feliz apesar dos sofrimentos, o novo moralismo material estatal e/ou para-estatal é obrigatório e só pode gerar infelicidade no ser altamente regulado, mesmo que a situação econômica seja boa, mesmo com tantas coisas boas a serem aproveitadas na vida.
É só um breve comentário sobre o que pensei quando li a notícia (abaixo) da Gazeta do Povo sobre a política antitabagista governamental, e não quer dizer que a existência de um estado não seja bom e útil e muito menos que uma "igreja" substitui as funções de governo. O ótimo seria que cada um fosse bom naquilo que deve fazer. E o mercado? O mercado sempre dá um jeito de se ajustar às circustâncias.
Comentário mais brevíssimo: nestas horas eu gostaria de ser fumante, não fumo por outros motivos, mas não sou antitabagista, e vamos combinar que há momentos em que o espaço físico é dividio com outros, o cheiro do cigarro é melhor que qualquer outro.

Após lei seca, cerco se fecha agora contra os fumantes
Dois projetos de lei, um municipal e outro federal, se aprovados, vão proibir o cigarro e seus derivados em qualquer ambiente fechado. Comércio se antecipa, tentando se adequar às novas exigências

terça-feira, 22 de julho de 2008

Eleições e boniteza

Político bonitão tem chances de receber mais votos? Será que o Ibope já fez uma pesquisa dessa "relevância"? Só pensei nisto porque vi o Beto Richa na ex-festa do vinho - atual festa do frango e da polenta (mudaram o nome da festa há uns dois anos, porque o antigo nome não ficava bem para os padrões do politicamente correto). Ah sim, Richa estava rodeado de gente, a maioria mulheres. Conheci certa vez uma mulher que votou num político porque o achava um "pão de ló"; eu não votava na época, tinha 17, era "contra o sistema" e deixei para fazer o título na a última hora da obrigação. O "pão de ló" (segundo os padrões pãodelósisticos da mulher) não ganhou as eleições, mas está por aí na política. Bem, se a beleza do político também favorece a obtenção de votos, então temos uma outra forma de política pão e circo. Que trocadilho horroroso.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Inspiração

Pequeno poema didático

O tempo é indivisível. Dize,
Qual o sentido do calendário?
Tombam as folhas e fica a árvore,
Contra o vento incerto e vário.

A vida é indivisível. Mesmo
A que se julga mais dispersa
E pertence a um eterno diálogo
A mais inconseqüente conversa

Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre...
Todas as horas são horas extremas!

Mário Quintana

(Não dei explicação alguma para a mudança de blog - não gosto muito de dar explicações quanto as coisas se explicam por si mesmas-, mas o título para o blog foi inspirado neste poema.)

Sr. Bloguinho

Marcas Marinhas - novo bloguinho (segundo disse o dono) do Marco Aurélio, também dono do Plural.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Das coisas cotidianas

A vida acontece no cotidiano, na rotina de repetições necessárias. Há gente que não suporta rotina e talvez nem seja a rotina que não suporte, mas não suporta é a sua vida, levantar todos os dias, trabalhar no mesmo trabalho, voltar pra mesma casa e mesma cama... As próprias mudanças acontecem dentro do cotidiano, exceto, claro, algumas mudanças bruscas. E se tivéssemos mudanças bruscas todos os dias, como o clima curitibano, elas também passariam a ser rotina. Então eu lembro de Chesterton em Ortodoxia:

O sol levanta-se todas as manhãs. Eu não me levanto todas as manhãs; a variação porém não se deve à minha atividade, mas à minha inação. Ora, para usar uma frase popular, pode ser que o Sol levante-se regularmente porque nunca se cansa de levantar-se. A sua rotina pode provir não de uma falta de vitalidade, mas de uma torrente de vida.

No meu cotidiano de ontem, estava eu no ponto de ônibus, já havia perdido o ônibus anterior e estava atrasada; observei quanta sujeira e lixo havia por ali e comentei com uma mulher a minha observação mental, mas meu pensamento já estava a planejar alguma coisa, um cartaz do tipo "Não jogue lixo no chão. As outras pessoas agradecem", ou arrumar uma lixeira para colocar ali, sei lá.

Então eis que ela me diz sem ênfase, demonstrando certeza na afirmação:

- O problema é esta banca.

Eu, mentalmente espantada: ...?!?!?!

Ela, sentindo a necessidade de me explicar: é, as pessoas compram balas e chocolates ali e jogam o papel no chão.

Eu: ...

Liguei o rádio do celular e coloquei os fones.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma.

Mt 10,28
O Evangelho destes dias e sempre muito atual (deveria ser colocado em ônibus coletivos no lugar das propagandas e mensagens ecológicas, porém logo haveria reclamações, não pelo que diz o versículo Bíblico, mas porque o estado é laico não importa o que a frase queira dizer com). Além de apontar para a realidade, me lembrou do livro Cartas de um diabo ao seu aprendiz (de C. S. Lewis) que termina com os diabos num banquete onde participam os diabos superiores e os iniciados que trabalharão como tentadores dos indivíduos. Veja só que eles também comemoram, ao seu modo, e como em quase toda comemoração, acaba em volta de uma mesa. O prato principal do banquete? As almas dos mais novos homens condenados ao inferno. Eles reclamam da qualidade das almas que chegam: os homens chegam as ser insossos até para o inferno, mas se para Deus os mornos serão vomitados, os diabos obviamente não recusam e acabam ganhando na quantidade. E a qualidade da alma insossa é aprimorada por aqui mesmo, na realidade que convida à anomia, mas também ao alerta, ao ora et labora, assim como há o diabo tentador e há o anjo protetor.

domingo, 6 de julho de 2008

Um cartaz amarelo...

Fim de domingo, bom momento para erguer as pernas e esperar o dia virar. Ou tomar um chima*, como estou fazendo. Mas neste país é proibido sonhar, como naquele poema do Drummond...
Eu vi lá no blog Libertad Matters o post do Reinaldo Azevedo:

A DITADURA DO TSE 1 – Tribunal quer agora censurar a Internet.
(...)
No Brasil, vejam nos posts abaixo, o TSE decidiu criar restrições à divulgação de informação jornalística sobre os candidatos na Internet. Também quer proibir manifestações individuais sobre candidaturas em blogs e páginas de relacionamento.

Como assim?

Uma resolução do tribunal equipara a Internet às televisões e às rádios, que são concessões públicas. As emissoras não podem expressar opiniões sobre candidatos e têm de garantir igual tempo aos postulantes. Jornais e revistas não estão submetidos a essas restrições. Eu poderia, por exemplo, escrever um artigo na VEJA criticando este ou aquele candidatos, mas estaria impedido de reproduzir tal artigo no meu blog. É ridículo.

[suspiros...]

SENTIMENTAL

Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar".


(Carlos Drummond de Andrade)


*chima: chimarrão.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Para não dizer que não falei... III

Da mãe que jogou o bebê pela janela de um edifício ontem aqui em Curitiba. Triste, muito triste.
Ela gerou um horror duplo: primeiro, lógico, por ter jogado o bebê, segundo pela a "crueza" das declarações - disse que queria se livrar do problema:

"Sempre fui incompetente para cuidar dela. Fiz isso para me livrar, de ter que cuidar dela"
"Acho que sou esquizofrênica, não me apego mais às pessoas. Não me arrependo do que fiz"

Estava visivelmente atordoada e, pelo que foi divulgado, teria problemas de ordem psicológica.
Claro que o ato já é chocante por si só, mas a crueza não deveria chocar tanto, pelo menos não mais que atos insanos de atentado à vida - na teoria e na prática -, muitas vezes apresentados como modernidades salvíficas, vindo de gente normal, polida, educada e civilizada.

Para não dizer que não falei... II

Ainda no país do Bananão, o Ministério da Saúde está pensando em restringir as propagandas de alimentos que considera, segundo seus padrões, com alto teor de açúcar, sódio e gorduras, como se a propaganda em si fosse causa direta do consumo - como se o vivente não tivesse a liberdade e possibilidade de escolha, e a propaganda serve justamente à isto, e como se fosse um idiota daquele filme Idiocracy -, e pior, é responsável pelos danos à saúde, logo a propaganda é diretamente responsável pelos altos custos que o SUS têm com o cidadão, que paga impostos e que adora uma bolacha recheada. No país da banana a política é tirar o seu e colocando o dos outros na reta. É claro que pouco vai diminuir os gastos do SUS, vai isso sim é afetar as empresas e mais diretamente o caixa dos veículos de publicidade, da tevê especialmente. Fora que será necessário um DGAS - departamento para análise do teor de gordura, açúcar e sódio e pessoal para fiscalizar constantemente a publicidade dos produtos... e aí lembro daquele filme Adeus Lênin, (se bem me lembro) a mulher voltando do coma acredita que está ainda no sistema comunista e analisa uma meia-calça que estaria fora dos padrões do departamento... como diria minha irmã, misericórdia!

Esta é a Bananaland, o país que é uma pintura mal acabada de Salvador Dali.

E o Lula em Curitiba diz que o Brasil é o principal responsável por combater a crise mundial de alimentos

Megalômano? Mas não sozinho, a parte da responsabilidade é dividia com a sociedade.

O brasileiro não está preparado para ser "o maior do mundo" em coisa nenhuma. Ser "o maior do mundo" em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade. (Nelson Rodrigues)

Ai que estes assuntos me cansam a beleza...

Para não dizer que não falei... I

E para não dizer que não falo do Bananão, esta nova lei da tolerância zero no bafômetro é o resultado da política baseada em algum tipo de filosofia risco zero: o cidadão comum é um risco ambulante, portanto, é penalizado antecipadamente por crimes por ventura possa vir a cometer. O vivente não poderá ser pego no bafômetro mesmo que não tenha cometido crime algum, já se estivesse com erva danada, mas sóbrio, aí poooode! Mas há outros exemplos desta filosofia: do cidadão gordo pelo trabalho que possa vir a dar (ao estado, à empresa de ônibus que precisa disponibilizar bancos mais largos, aos transeuntes na rua, ao SUS, ao aquecimento global, etc), os tabagistas... pfff, os amigos do colesterol que adoram uma batata frita, etc, etc, (viu como há pessoas que são um risco à sociedade? na dúvida, leva todo mundo!) O bom senso talvez fosse a efetiva punição dos atos criminosos pela lei atual que já não é branda, mas não no Bananão que criminaliza a possibilidade enquanto os crimes mesmo levam anos para serem julgados. Há quem acredita que a lei é mais uma dessas que não vão pegar na prática; a questão não é essa, mas se deveria pegar. Parece daquelas leis rígidas que só vai pegar de acordo coma cara do freguês.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Não vos conformeis com este mundo!

(Rm 12,2)

Ter filhos é uma maneira de não se conformar a este mundo, é quando a gente vê que, apesar de tudo, há uma esperança lá no fundo da alma. E que as coisas acontecem sempre, embora haja modismos, mas o que é bom, o que é dom, permanece.

A gente começa a amar só pela notícia, sabido primeiramente pelo teste da farmácia “tem um ou dois risquinhos aqui?”. A vidinha tem poucos dias, mas já uma persona desde o que chamo de big bang individual (ok, isto soa um tanto delicado, não entrarei no mérito da questão neste post).

Não, ainda não sou eu a mãe, por enquanto: daqui para frente serei a tia Lê!

Deus abençoe, irmazinha (Tar)!