quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Enquanto espero a roupa centrifugar...

Vinte duas horas e cinqüenta e quatro minutos. Alguns antigos já escreveram cincoenta. Meu Vô deve ter escrito. Terceira vez que lembro dele hoje, o Vô. Ele sempre falava “Ordinária” com ênfase no “ná” que levava alguns segundos. E colocava a gente no colo, dava-nos cigarro de palha e contava causos. Alguns até eram verdades, e eu achava divertidíssimo outras vezes ficava meio assustada. Uma vez ele olhou meus dentes e disse que a Vó tinha dentes de coelho iguais quando era moça, e arrancou todos. Claro que ele era muito mais dramático, eu que tenho mania de sintetizar. Pausa para o amaciante. Um ano antes de falecer me contou da história do bisavô. Na época do levante tenentista (em 30), o bisa foi um dos colaboradores de Prestes, bem no começo, fornecia alimentos para o batalhão. Agora me recordo que já escrevi um texto sobre o assunto, acho. Bem. Era possuidor de muitas terras, mas era no fundo um gaúcho errante. Perdeu quase tudo. Ficou com um livro (o Vô) em que fez relatos da época, que eu acabei trazendo na mala aquele dia. De resto não sei muita coisa, a não ser que no sangue daquela família ficou algo de errante, algo da solidão melancólica dos pampas. O livro está na estante como uma lembrança do Vô. Já o que vai escrito é uma exaltação às figuras de genuínos comunistas gaúchos, não tive muita paciência para passar das primeiras páginas. Eu devolveria o livro, mas daí o Vô foi antes. E ele quis. Não foi nenhuma eutanásia. Já disseram que a se não se conhece o passado, a história, estaremos condenados a repeti-lo. Lembrou-me uma centrífuga. O Vô foi meio errante e também perdeu muita coisa na vida, por teimosia cega. E isso vai passando de geração a geração se o mal não for cortado, ou pelo menos bem retratado. Não é assim com o comunismo que Prestes queria implantar no Brasil? Hoje a figura Prestes é celebrada na história. Bem, não raro fracassados conseguem se fixar bem na história, como uma medalha de honra que recebem por suas tentativas pseudo-heróicas. Então, estamos condenados a repetir o comunismo, agora em outras vestes, uma mistura entre o romântico e caudilhismo latino-americano. Que tempos vivemos, que tempos. Seremos centrifugados? Às vezes enquanto faço as tarefas domésticas acumuladas há dias – tenho trabalhado bastante – fico pensando nessas coisas do destino do mundo, tantos os ismos. Depois me volto ao destino do tanque. Às vinte e três horas e trinta inutos. E vou pensar em outra coisa.

2 comentários:

Anônimo disse...

feliz fiquei
com sua visita
ao mundo virtual
da minha mente esquisita
beijos de montão
poeta amiga

Magia da Fé disse...

Queridíssima, adorei o texto, a metáfora e a analogia... Beijocas mil! ;)