quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Riscos, etc e tal

Viver é um risco, já disse alguém um dia, disse um enxaguado na mesa de um bar, ou um indignado e/ou conformado diante de uma situação concreta. E quando o risco se torna fato, com maior ou menor força do que o previsto (ou imprevisto)? É um chororô. Aí fazem leis, regulamentações, normas internas, criam-se grupos de trabalho, isso quando não aparece o Procom, ou politizam o problema.
Há risco desde tropeçar e bater o nariz no chão, de ser pego na malha fina, até do avião bater num jatinho ou de, de repente, abrir uma cratera sob os pés enquanto andamos pela rua. Alguns são previsíveis e controles são necessários, lógico (o caso do avião e da cratera), mas não significa necessariamente que o risco não se tornará fato. Também a fatalidade não é argumentação para não se tentar prever o risco e corrigi-lo a tempo. Não dá para imaginar o engenheiro da obra do Metrô de SP falando aos familiares e às empreiteiras “a cratera foi resultado do risco inerente da vida”.
Bem, longe de ser uma teoria geral de riscos, é só para dizer que venho percebendo (pelo menos no meu meio) uma onda geral de se eliminar os riscos, custe o que custar. Como eu disse, conhecer os riscos do ambiente em que se está tudo bem, mas uma obsessão por isso me parece paranóia, ou mesmo uma forma de tapeação.
É, tapeação, explico-me: o controle do risco existe, mas quando o problema acontece de verdade, vira um jogo da batata quente, achar um responsável (ou os) não é muito fácil, porque ninguém vem assumir a responsabilidade pelo fato ou mesmo se vem não está lá muito preparado (e mesmo sem vontade) para resolver. Ou o fato mesmo de existir um controle de risco pode mascarar uma falta de responsabilidade quando é preciso que esta seja assumida.
Resumindo o imbróglio das palavras: o risco existe; ninguém quer correr riscos, quando ele acontece não há muito preparo para resolver o problema, justamente porque houve mais concentração na previsão dos riscos e menos na habilidade e consciência em resolver a questão racionalmente.
Então, na busca de eliminar riscos, criam leis e normas, e a regulamentação chegando por vezes ao extremo dos detalhes. Muita regulamentação torna qualquer erro de fácil resolução um auê, envolve muitas pessoas e não raramente demora em ser resolvido (ou nem se resolve), além de aumentar os custos do controle excessivo, criar burocracia e gerar corrupção, e mesmo injustiças na punição e gordas indenizações.
Enfim, há medo de errar e medo de assumir, e o resto fica por conta da matriz de riscos.

*

Faz tempo que penso nisso. Hoje da conversa com uma amiga rendeu o texto. Eu contava que eu mesma descobri que vinha procedendo, inadvertidamente, de forma incorreta acerca de uma questão no trabalho. Estava errado, mas não é algo grave e nem causou mortes. Alguém alhures da rotina poderia dizer “viu, faltou um sistema de risco operacional”. Pois é, custos meu bem. Preferi informar a tapear, e forneci uma solução como brinde (hehe). A decisão final por é minha conta, mas não tomo o exemplo de Pôncio Pilatos, eu preciso saber da decisão para resolver o problema. Uma semana se passou e ainda não sei se serei jogada aos abutres. Que agonia!

Um comentário:

Lelê Carabina disse...

Esse texto ficou confusíssimo. Pra ti ver como anda a minha cabeça...