segunda-feira, 28 de maio de 2007

No caminho da roça

Esses dias, fazendo o caminho da roça, indo pegar o ônibus para casa, eu ia pensando, cada passo um pensamento, e como eu penso, meu Deus como eu penso! Não duvido que faço caras e bocas sem querer, porque às vezes pego alguém me olhando de soslaio. Aquele dia fazia o inverno típico curitibano, que eu adoro, de um vento cortante. Não sei explicar, mas acho que esses dias são propícios para se pensar andando sozinho na rua.
Pois bem, antes que eu me esqueça do que pensava. Na verdade me perguntava por que eu me interesso e me empenho em certos assuntos e entro em discussões. Por que simplesmente não trabalho, compro, trabalho, faço filho, trabalho, depois viajo, trabalho e mais tarde aposento. Por que fico pensando em coisas tão subjetivas e complicadas, por vezes comprando briga? Por que simplesmente não penso naquela bota?
Ah mas eu pensei na bota, o que já é uma evolução, em outros tempos nem pensava para comprar, hoje olho, vou para casa esperar a compulsão passar, penso e aviso ao marido: vou comprar uma bota, eu preciso. Homens geralmente não conseguem entender o fato da mulher sempre precisar de um sapato novo, não que ela sempre compre, mas ela sempre precisa. Aí demonstrei que precisava e ele não discordou. Outros tempos ele só falava: compra o dinheiro é teu. Eu ficava meio assim assim... a mulher em certas coisas tem necessidade de aprovação, alguns acham isso machista demais, não sei, o caso é que se os dois têm planos, prioridades, em comum a mulher não vai sair comprando sapatos à toa (ok às vezes vai), por mais que o dinheiro seja próprio, se o cara não se importar que ela esteja comprando sapatos à toa, prestatenção, talvez ele não se importe com o que ela faça com os dinheiro ou as prioridades, desde que fique satisfeita e não encha a paciência dele, ou ele também não está tão preocupado com as prioridades dos dois não. E a mulher também faz essas perguntinhas para testar o relacionamento, ah sim, somos bem sacanas às vezes. Se ela tiver de TPM e for meio neurótica, já viu... ai ai ai até onde foi minha digressão...
Então, estava eu, minhas botas novas e pensamentos velhos fazendo o caminho de volta da roça, uma caipira cosmopolita. Por que me envolvo que assuntos que, a priori, não fariam melhor ou pior a minha vida, nem a vida de outros...? porque não quero ser mais um na boiada, não me contento em me apegar somente a trivialidades da rotina, que vá lá, não descuido também. Mas o que importa, o que importa realmente se as batatas têm que ser cozidas inteiras logo cedo no domingo, esperar elas esfriarem bem para picá-las em quadradinho, e só depois, veja bem, só depois de tudo isso colocar o molho da maionese? Não pode cozinhar já picada, deixar esfriar no freezer e colocar o molho quando ainda estiverem mornas dez minutos antes do almoço! Olha se outras pessoas se levam a sério essa sistematização trivial ... (dando de ombros), eu que não vou perder uma Missa no domingo de manhã para cumprir todo ritual maionesístico. Não estou querendo dizer com isso que sou melhor que a fulana que prefere esperar as batatas esfriarem, etc e tal.
Pessoalmente tenho necessariamente ver sentido nas coisas, é meio obsessivo e automático e eu gosto de saber o porquê das coisas, ter (ou buscar ter) ciência e consciência, porque antes de ir para o cabresto, antes de aceitar o que é imposto por homens, diga-se alguns homens para o resto da coletividade, quero poder me informar e falar, quero saber porque tal coisa tem que ser desse jeito e não de outro. E quero ter a liberdade de dizer. Então, se um dia o ritual maionesístico deixar o ambiente individual de alguém e for dissipado culturalmente como a forma correta de fazer maionese, o que é obviamente uma metáfora, vou me importar. O que não quero é simplesmente mudar por mudar, nesse sentido não quero fazer parte do gado que anda parcimoniosamente para o matadouro, ou sendo menos trágica, seguir o caminho pré-definido por um alguém ou coisa obscura que não declara as intenções.
Ou você se importa com as coisas e decisões que terão influência na sua vida, mesmo que você seja ou se ache um reles mortal, ou outros tomarão decisões por você. É por isso que me importo e também porque quero ter filhos – não já já, não quero só deixar um mundo mais bonito para eles, sei lá, separando o lixo que não é lixo da cidade grande.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lele:

cadê vc? Sumiu? Vamos lá menina. Mande ver...hehehe

abs
Aluízio Amorim