quarta-feira, 16 de março de 2011

“Não há silêncio que não termine”

Terminei o meu “Não há silêncio que não termine”, da Ingrid Betancourt, onde ela conta seus anos de cativeiro na selva colombiana, seqüestrada pelas FARC. Com certeza é um dos melhores livros que já li, senão o melhor, porque é uma “ficção real”, se assim se pode dizer, porque a cada capítulo ficava pasma daquele drama ter acontecido de verdade.
Para mim, a Ingrid foi heroína de si mesmo, não porque ela se salvou, mas porque  suas escolhas se pautavam numa resoluta necessidade de autopreservação, de livrar seu espírito da tentação da entrega diante do seu carrasco, apegando-se ao que tinha de mais sagrado: suas lembranças, a voz da sua mãe no rádio, as amizades do acampamento, sua fé, embora acorrentada, agarrada ao fio da divina providência quando não sentia mais qualquer esperança.
O livro não é somente uma história contada, mas um testemunho de decisão diante do que não se pode mudar; é sobretudo um testemunho de coragem e fé. Embora o livro não tenha conotação religiosa, nem a história tem este foco, se apreende na leitura o seu desenvolvimento espiritual diante do sofrimento extremo e privações de todo tipo. Não, não é bem “desenvolvimento espiritual” que eu queria dizer, porque por desenvolvimento parece algo didático, e não é. Também, por favor, não é evolução.
É pura entrega, conversão, amadurecimento que, acredito eu, só se encontra desnudando a alma daquilo tudo que é inútil e “acorrentador”. Não, não acredito que precisa haver necessariamente algum tipo de sofrimento para que haja este amadurecimento, mas é um amadurecimento apesar do sofrimento, independente do que seja. No caso, o da Ingrid, não havia saída, ela não escolheu passar por aquilo, mas escolheu que não entregaria seu direito à liberdade, não entregaria seu espírito e sua mente.
O que me chamou atenção nas suas reflexões foram justamente suas escolhas de manter sua integridade psicológica e espiritual, o que a levou a redescobrir a sua fé, por meio das orações à Virgem Maria e ao Sagrado Coração de Jesus, da leitura da Bíblia, se não me engano ela fazia uma “Lectio Divina”, e muitas, muitas reflexões, afinal havia tempo de sobra para isso. E sua fé madura, acabou por preservar esta integridade, num ciclo saudável, mesmo nos momentos em que ela se encontrava mais deprimida e frágil.
Para mim, pelo menos, o testemunho de fé e de amor à vida, família, à liberdade e à civilização (e de forma sutil, uma declaração de amor à Virgem Maria) foi uma surpresa deste livro emocionante, que eu acabei chorando na minha mesa de trabalho ao ler o final. 
PS: Ah, não se preocupem os céticos, os ateus, etc, a religião não é a tônica do livro.

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