terça-feira, 4 de março de 2008

Pelo bem do progresso humano

Reduzir o debate da aprovação da lei sobre pesquisa com células tronco embrionárias a um embate Igreja (Católica) x "comunidade científica" para variar já se tornou lugar comum em questões polêmicas quando envolve a Igreja como instituição e por isso estigmatizadas desde o princípio. Este "argumento" é usado como princípio para simplificar as questões e enquadrar os lados cada um no seu "devido lugar": os que estão do lado do progresso humano (os cientistas) e os que estão do lado da obscuridade (os religiosos). Considerando este princípio, todo o resto vem de acréscimo: se o estado é laico, logo o Supremo deverá ficar do lado da ciência para justamente provar sua laicidade, se alguns membros do Supremo são Católicos ou escondem sua opção religiosa porque mancha o currículo ou votam a favor da lei para de novo provar que não misturam as coisas. E todo o resto da discussão fica prejudicada porque já se iniciou desonesta e desvirtuada das questões principais. É isso que está sendo apresentada à massa com um apêndice que é o apelo emocional de esperança de uma quem sabe possível futura cura de tristes doenças. Desonestidade + emotividade não podem resultar em verdade, só formam uma rima pobre.
Como é comum num ambiente "livre", o que há é gente contra e gente a favor da utilização das células tronco-embrionárias em pesquisas científicas. E claro que a Igreja Católica entrou na discussão porque obviamente (1) como instituição tem direito de participar e (2) o assunto lhe diz respeito oras, mas não somente a si, porque a questão “vida” é um valor universal. A turma-a-favor além de jogar dúvidas da laicidade do Estado para testá-lo, diz que o início da vida é relativo, depende do "conceito pessoal" de cada pessoa e do "momento cultural" da sociedade. Para quem se julga tão científico, um argumento desses é bem obscuro. E acusam a turma-do-contra por atentar com a laicidade por usar a concepção / fecundação como início da vida - um argumento que é provado cientificamente, amplamente aceito no meio científico e que dá suporte e é suportado pelo direito natural do homem, argumentos antes éticos e científicos que religiosos. Então, depois de denunciar o argumento religioso e dizer que não há consenso de quando se inicia a vida, a turma-a-favor “vê” um consenso no ar, a partir da atividade cerebral: é ser vivo se tem cérebro, antes disso é um bolinho de células manipuláveis guardadas numa agulha ao alcance das mãos e das lâminas, e depois disso, é a morte. Bem fácil de explicar, bem fácil do povo entender. Ainda, se há uma possibilidade de pesquisa que já apresenta resultados científicos de sucessos são as células tronco adultas, então porque não se respeitar o limite da vida presente nas células tronco embrionárias? Para apenas ficar nestes dois pontos.
Agora explica isso para a massa, explica isso clara e honestamente no jornal nacional, nas páginas amarelas das revistas, nas entrevistas de rádios conhecidas, que não se trata simplesmente de aprovar ou não experimentos, de deixar ou não a ciência experimental trabalhar, a questão não é de ordem prática tão somente, mas se trata de aprovar idéias, mudar princípios em que se baseiam não somente a legislação, mas a cultura e consciência das pessoas. Que a aprovação abre precedente para aprovação do aborto. Que se trata cada vez mais de uma cultura de morte. Mas quem liga para isso se eu posso melhorar a vida, se é para bem do "progresso humano"? Pelo bem do progresso humano atrocidades foram cometidas e embriões, que são sim vidas, independente se são fertilizadas in vitro e por quanto tempo estocadas em clínicas de fertilização, serão sacrificados como os meios que justificarão um fim altamente questionável em todos os sentidos. Pelo bem da humanidade se mata o indivíduo.