No luto eu descobri coisas interessantes: dizem que o tempo cura. Não, o passar do tempo faz doer ainda mais nas lembranças, porque no passar do tempo tenho a percepção exata que não é mais o mesmo tempo que passaria se meu pai estivesse vivo. Parece óbvio, mas não é, ou não ouviria tanto “com o tempo você se acostuma”. Não me acostumo, não quero me acostumar. Eu sei, ainda não tivemos o tempo suficiente (para quê?), faz só quase trinta dias... Não me cabe na idéia que se pode acostumar com a ausência de alguém amado, não faz sentido. Tenho quase certeza que esta é a chave: fazer sentido. Não se acostuma, mas se muda o sentido da vida (e tudo mais), não estou exagerando, dramatizando ou entrando em depressão. Meu pai era tão importante e presente que a falta dele muda o sentido da minha vida, precisarei me refazer – o que dizer minha mãe – não me acostumar, para continuar vivendo, agora com um hiato no coração. Quem se acostuma, sofre um sofrimento que talvez não faça diferença na vida, ou que só fará mal. Eu não conhecia o luto de verdade, sei que ele tem fim, e viver essa experiência me fez entender que o luto não é um eterno sofrer, nem se acostumar, mas um refúgio para dar novo sentido à vida. Não é o tempo que cura; é Deus.
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