Todos os poemas são um mesmo poema, Todos os porres são o mesmo porre, Não é de uma vez que se morre... Todas as horas são horas extremas! (Mário Quintana)
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
quinta-feira, 8 de março de 2012
Dia da mulher, na contramão dos exagerados cumprimentos
Dia da mulher, legal a comemoração da data e tal, só acho esquisito receber os “parabéns” (por ter nascido mulher?) e outros cumprimentos efusivos. Menos né. Não me sinto mais ou menos feliz neste dia especialmente... Bom, este dia é mais pelo significado histórico do que pelo “meu” gênero (aliás, o Laerte, ops, a Sônia está botando este negócio de gênero à prova). É bom parar mesmo e pensar nas conquistas e nos consequentes sacrifícios para manter um status de mulher moderna-e-independente.
Que bom que a mulher conquistou uma posição no mercado de trabalho, mas acabamos por entrar em conflito com nossa condição natural. Sim, temos direitos, que ótimo. Mas a igualdade nos impõe deveres que limitam uma necessária liberdade de espírito feminina... não sei se consigo me explicar o que seria isso, mas consigo exemplificar: como mãe, preciso aprisionar o espírito em 9 ou 10 horas diárias entre trabalho, almoço, trânsito, longe do meu filho e de casa, terceirizar as brincadeiras e tudo mais. Como disse, gosto de trabalhar, mas tantas horas assim vão me fazendo um calo na alma. Abstraio com os meus relatórios e papéis.
Ou seja, as mulheres conquistaram bastante, mas tivemos perdas, é só ver a realidade ou fazer uma pesquisa, talvez descobrissem que muitas mulheres gostariam de trabalhar menos horas por dia, abdicando até parte do seu salário. Mas nesta cultura não temos esta opção. Também não temos opção de ficarmos mais com os filhos bebês, quem é mãe sabe que licença de 6 meses é muito pouco (ok, para algumas é só muito!). E quantas mulheres adiam a maternidade? Ou perdem em relacionamento? Falo por mim, quanto tempo dedicado a um destino que se revelou outro depois da vinda do meu filho? Não fui preparada para este antes-e-depois (não é culpa sua mãe!), tive que aprender a lidar com isso.
Não tô jogando a realidade no ventilador pra espalhar culpa (a culpa num sentido é boa sim, é educativa), é só pra pensar e tentar fazer o melhor possível nesta rotina desgastante. E, se eu tiver uma filha mulher, vou pensar bem na sua educação. Neste caldo cultural é que não dá.
Enfim, não, não somos heroínas nem precisamos ser. Se a mulher quiser ser heroína vai ter que cortar uma parte da sua natureza e vai sofrer mais. De toda sorte a gente sofre quando vai contra a natureza. Ou tem a outra opção bem colocada nestas revistas femininas da vida: não sentir culpa nenhuma e colocar todas sua satisfação nas conquistas do trabalho.
sábado, 14 de janeiro de 2012
2011, o ano que quase acabou
Eu quase diria que 2011 foi um ano perdido. Não chego a dizer porque parto do princípio que o que se vive – o tempo, a experiência, etc – nada é perdido, creio (não que tudo deva ser um eterno aprendizado, aquela coisa às vezes chata de tirar uma “mensagem”do sofrimento, ou a coisa estranha de se fazer brotar do mal um bem, ect, etc). Simplesmente que a vida não é perdida quando há algum sentido em viver. Assim, meio explicado, ponto parágrafo.
Os anos passam, os dias, as horas, as pessoas trabalham, fazem sacrifícios, preocupam-se com suas responsabilidades, estressam-se na labuta, não sou eu a privilegiada, nem me lamento. Ocorre que todo este sacrifício diário - não sacrifício como sofrimento, mas no sentido de empenho, busca – se dissolve quando há sentido de viver, quando vemos os resultados, quando lembramos por quem o fazemos, ou quando nos realizam em nossa existência.
Em 2011, todo estresse com as responsabilidades do trabalho que passei, todos os momentos aparentemente alegres, o nascimento da minha sobrinha, todo o meu sacrifício e conquistas, teve como pano de fundo uma dor profundamente humana, aquela que testa a sanidade mental e (para os que crêem) a sanidade da alma, na fé no Deus da salvação. Pensando agora enquanto escrevo, talvez em 2011 eu quase cheguei a perder de vista o sentido da vida, depois da doença e morte do meu pai.
Assim, cheguei ao fatídico final de 2011 pensando que vivi um não-ano e, ao contrário daqueles que se alegram (às vezes com um entusiasmo exagerado) em se desvencilhar do ano velho, nas primeiras horas do dia 1° de 2012 chorei por não conseguir me desgarrar do ano que se acabou, agarrada que estava nas minhas lembranças mais dolorosas que não conseguiria descrever aqui (uma delas foi o momento da morte dele, em que eu estava presente ao lado da minha mãe – não me arrependo, num misto contraditório de alívio e dor, que um dia talvez saberei lidar quando voltarem as lembranças).
Então, penso eu agora e me surpreendo, tudo que me remete a acontecimentos de 2011 – qualquer lembrança mesmo que não tenha ligação com a morte do pai em 30/junho – me faz lembrar e sofrer um pouco daquele sofrimento passado, justamente por aquele sofrimento ser o pano de fundo para todo ano. Talvez isto é o que se chama de luto...
E depois o ano se interrompe num finalmente e chega hora de mudar o cenário: só vivendo.
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