quarta-feira, 28 de maio de 2008

E hoje, aniversário do Pai...

AS MÃOS DE MEU PAI

As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já da cor da terra
- como são belas as tuas mãos
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que se chama simplesmente vida,
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste [alimentando na terrível solidão do mundo, como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah! como os fizeste arder, fulgir, como o milagre das tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas...
essa chama de vida – que transcende a própria vida
... e que os Anjos, um dia, chamarão de alma.

Mário Quintana

(E para quem tem cinco filhos e a mãe, não precisa chamar mais gente para fazer uma festa!)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Senhor...!

Aquecimento global, poluição, catástrofes naturais + crise de alimentos... uma coisa não tem necessariamente relação de causa e efeito com outra, mas está sendo dito-aceito-e-papagaiado como fato concreto e tá deixando o povo com as idéias meio entreveradas.
Veja só, no momento das preces, o Padre lembra a situação da China que sofre com as catástrofes naturais (ninguém lembra tanto assim de Mianmar), segundo ele, uma forma de vingança da natureza... (nem diga Padre, isso que nem se conta aí as catástrofes antinaturais...). E daí a gente se esquece do motivo inicial da prece e reza (apavorado!) para a natureza ser boazinha e ter pena daqueles que fazem a sua parte. “...e por favor seja mais seletiva nas catástrofes Dona Natureza!”, e claro, agradece à natureza pelo Brasil ser um abençoado solo preguiçosamente deitado em berço, digo, numa placa tectônica inteira.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Estou por aí, vivendo



DA VEZ PRIMEIRA EM QUE ME ASSASSINARAM

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

Mário Quintana
(dos poemas que eu mais gosto do Poeta)