Não faço promessas de ano novo e não é do meu feitio fazê-las, não porque não acredite ou que não vá cumprir, mas só de pensar na promessa me dá uma preguiça, como às vezes que digo a mim mesma “amanhã farei jejum” e já me bate a fome hoje. É a tentação do contra. A bem da verdade já fiz promessinhas instantâneas para desesperos momentâneos e fiz uma única grande e séria promessa, aquela que a gente diz na frente do Padre “eu prometo amar-te, respeitar-te...”, mas não foi instantânea nem estava desesperada, e é mais que uma promessa: um compromisso.
Nem digo “ano novo, vida nova”, porque é a mesma vida, a minha mesma vida que se acelera no começo do ano, que a celebro no recém-nascido ano. Nestas festas de reveillon tenho a impressão que o indivíduo quer tanto-tanto-tanto a mudança e que ela aconteça como a instantaneidade dos os fogos de artifício, que brilham no espelho dos olhos, que soltam lágrimas, e vamos todos embebedar em álcool e coletividade, e depois... e depois acabou-se o que era doce, a ilusão cai como uma chuva de cinzas dos fogos mortos e sobram corações vazios como os cartuchos de uma alegria triste e bêbada.
E quando passa o dia da confraternização universal, é a mesma vida que volta com um dígito diferente para nos lograr no preenchimento das datas “desculpa, estou em 2007 ainda” (há risinhos), por dentro a alma chora o tempo “como passa, como passa, e eu não curto a vida, olha só vizinho, nem pude viajar para preencher o coração, como a minha vida é chata e monótona meu Deus!”, só foram os fogos de artifício que acabaram... restou o céu, o indivíduo e Deus, mas o reclamante prefere juntar trapos das fantasias de felicidade na aglomeração. A data errada é só um diminuto erro perto do que se escolhe como ideal de felicidade, onde se deposita o cheque da esperança com o ano borrado.
Claro, há e deve haver esperança de que a vida melhore, talvez até mude! Não há problemas com os fogos e comemorações tantas, o problema, creio eu, é quando isso se torna a própria mudança desejada, os fogos estouram e eu me torno como por mágica uma pessoa nova! O problema é achar que a vida só melhora quando há progresso material visível, quando não se enxerga que o espetáculo dos fogos de artifício só é possível porque há um céu que lhe faz base. O espetáculo é o próprio céu e o céu é o abraço de Deus nos seus filhos.
Meu coração não explode com os fogos, mas com os corações que estão ao lado e eu desejo só a minha mesma vida e todos os corações que me habitam, voltar todos os dias ao mesmo colchão de amar...